Retrospectiva 2015

Daqui a cem anos, certamente os historiadores e curiosos de plantão olharão para 2015 e pensarão: que doideira. Se há uma verdade, é que esse ano da graça de dois mil e quinze foi muito louco. Ao contrário de anos recentes, marcados pela letargia e total apatia dos acontecimentos, anos sem fatos marcantes que estão destinados ao limo histórico, muita coisa aconteceu em 2015. Parece que os roteiristas da história resolveram fazer com que 2015 fosse um ano cheio de turning points.

A política nacional foi um dos grandes destaques do ano. Em Brasília, Dilma Rousseff assumiu o seu segundo mandato cercada de desconfiança e se escudou com Joaquim Levy, um sujeito que ninguém conhecia, mas que era tratado pelo noticiário como o Messias da economia. Com Levy no comando, o Brasil se afundou na merda, viu o dólar disparar, a recessão, a perda de credibilidade e quando ele saiu do Governo, o Brasil se afundou ainda mais na merda, porque o mercado econômico não faz muito sentido e gosta de ver os outros na desgraça.

Foram realizadas pelo menos quarenta e oito fases da Operação Lava Jato e as investigações conduzidas pelo juiz Sérgio Moro avançaram tanto que a Polícia Federal está prestes a descobrir quem foi que entregou Jesus para os romanos e que ele ocupava uma diretoria na Petrobrás. Perdemos as contas de quantas vezes acordamos, ligamos a televisão e vimos o insólito japonês da federal conduzindo coercitivamente pessoas para Curitiba. Pessoas que já estavam presas foram presas de novo, delações premiadas foram negociadas em grupo e quase todas as estruturas do poder foram atingidas. Tantos grupos políticos são investigados, que é até difícil definir se a operação é pró ou anti-PT, uma vez que 2015 reforçou a tendência de analisar todos os fatos sob esse viés.

Em dos melhores momentos das investigações, um senador foi preso após o vazamento de uma conversa sua com um advogado e o filho de um preso em que eles discutiam, entre outras coisas, as melhores maneiras de levar uma pessoa para a Espanha. Chegou a ser discutida a possibilidade de colocar o cidadão em um barco, uma lancha, ou algo do tipo, no que seria uma fuga realmente cinematográfica, mas sem sobreviventes.

Um psicopata, também investigado pela PF, assumiu o comando de um dos poderes legislativos do Brasil e transformou aquilo no quintal da sua casa. Colocou novamente em votação projetos dos quais ele não havia gostado do resultado, barganhou cargos políticos e no final abriu um processo de impeachment, no mesmo momento em que era investigado por um monte de coisas. Tudo sem perder sua boca entreaberta.

O melhor momento do ano, sem dúvida, ocorreu quando Michel Temer, vice-presidente do Brasil, escreveu uma carta para a presidente Dilma. Uma carta cheia de dor-de-cotovelo, com um conteúdo tão devastado emocionalmente quanto a letra de Boate Azul. O episódio marcou a tensão entre o PMDB e o governo e foi destaque em uma semana na qual a Kátia Abreu jogou um copo de vinho na cara do José Serra. Foi tão louco que por um momento o Renan Calheiros pareceu ser a voz mais sensata do Congresso Nacional.

Em vários estados vimos policiais batendo em estudantes, vimos manifestações na rua envolvendo cartazes e um simpático boneco do lula utilizando roupa de presidiário de filme norte-americano antigo. Em Mato Grosso, um ex-governador, sua esposa, o ex-presidente da Assembleia Legislativa e vários ex-secretários foram presos e ninguém sabe direito por qual razão, já que são tantos escândalos que é difícil definir qual é qual.

As carceragens do mundo também ficaram cheias de dirigentes do futebol, todos presos em um hotel enquanto se preparavam para participar de uma reunião da Fifa. Jogaram dinheiro na cara do presidente da Fifa, que anunciou sua renuncia programada, o presidente da Federação Europeia foi afastado, o da Confederação Brasileira é investigado e não sai mais de casa com medo de ser preso. Enquanto isso, o Dunga segue no comando da seleção brasileira, só tomando ferro e transformando o Brasil no país do surf, a pátria de parafina.

O Brasil viveu seu maior desastre ambiental na história, com o rompimento de uma barragem de lama tóxica no interior de Minas Gerais que simplesmente inutilizou um rio. Em um momento surreal, começou uma discussão sobre o que deveria ser mais lamentado: a tragédia ambiental ou o atentado terrorista que matou mais de cem pessoas em Paris.

O atendado em Paris, numa sexta-feira 13, chamou ainda mais a atenção para o Estado Islâmico. Organização que quer controlar o mundo e provoca a barbárie no Oriente Médio, provocando uma fuga em massa de refugiados sírios que comem o pão que o diabo amassou no leste europeu. Ainda na França, no começo do ano, um grupo de cartunistas foi assassinado por terem ofendido o islã. Em todo mundo, o radicalismo religioso avança. Inclusive no Brasil.

Pessoas famosas morreram, é claro. Pessoas morrem o tempo inteiro e vez por outra alguns garotos com poderes parapsicológicos conseguem vê-las, o tempo inteiro. Marília Pera, B.B. King, Ben E. King, Betty Lago e tantas outras pessoas deram adeus.

O calor foi um dos mais fortes dos últimos anos. Novas doenças transmitidas por mosquitos podem invalidar toda uma geração no Brasil. As duas maiores bilheterias do cinema foram o novo Jurassic Park e o novo Star Wars, mostrando que algumas coisas nunca mudam. Descobriram que bacon dá câncer.

O Brasil parou diversas vezes por conta de vídeos no Whatsapp, que em 2015 ficou mais forte do que nunca. Cada vez mais as pessoas o utilizam, cada vez mais estamos em grupos ridículos que nos provocam dor, sofrimento e constrangimento moral, cada vez mais programamos nossa vida ao redor desse aplicativo em que tratamos assuntos de família, compartilhamos putaria, mantemos contato com a família, fazemos negócios, praticamos ofensas morais e tentamos descobrir se estamos mesmo com câncer.

2015: o ano de Eduardo Cunha, do Whatsapp, do Estado Islâmico, da Microcefalia, da Lama Tóxica. Realmente foi um ano movimentado, mas não necessariamente para o bem.

Agora um vídeo para encerrar e foder de vez com a vida de vocês.



Feliz 2016 CHnautas, no ano que vem (amanhã) continuaremos por aqui e contamos com vossas presenças.

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