Trilha Sonora


A vida é feita de pequenos desafios inesperados que a qualquer momento podem se postar na sua frente. Não há como desviar deles, a única solução é enfrentá-los e resolvê-los. Em algum momento da sua vida, você será desafiado a escolher a trilha sonora do seu casamento.

Talvez vocês não saibam, mas as modernas técnicas de cerimonial estipulam que cada momento da cerimônia deve ser acompanhado por uma trilha específica. E sim, é bom que você escolha todas as músicas para não correr o risco de alguém olhar para você e dizer “esse tem cara de ser da galera de peão” e soltar um Leandro & Leonardo cantando “diz para mim que é você esse alguém que eu tanto quero” em algum momento crucial.

A única escolha óbvia é a música da noiva, já que quatorze entre cada dez mulheres escolheriam entrar com a Marcha Nupcial. As outras que compõe o saldo negativo imaginário talvez tivessem uma ideia diferente, como, sei lá, entrar fazendo a coreografia de Crazy in Love da Beyonce.

As demais escolhas não são necessariamente simples. Há a música da entrada do noivo e ele deve simplesmente escolher uma música que ele goste. Mas é preciso bom senso, não? Não vá entrar com a música do Pimpolho, ou com One do Metallica, ou mesmo Fake Plastic Trees do Radiohead. A primeira provocaria uma situação excêntrica de divórcio antes do casamento, a segunda faria o demônio aparecer no meio do salão e a terceira levaria a uma onda de suicídios coletivos que fariam as autoridades policiais acreditarem que o que ocorreu não foi um casamento, mas sim uma estranha cerimônia de sacrifício promovida por uma seita satânica.

É preciso escolher uma música para a entrada do pai do noivo e da mãe da noiva. De preferência que não seja Mother do John Lennon, ou Pais e Filhos do Legião Urbana. Há também a música dos padrinhos e eu imagino que seja bem engraçado soltar um “Chatuba de Mesquita” na hora dos amigos dos noivos (Bonde do Sexo Anal), ou o Show das Poderosas para a entrada das amigas da noiva.

Há a música da criancinha que leva as flores e espalhas alianças pelo caminho. Há uma música para a assinatura de papeis. Para a saída dos noivos (o dia em que eu sai de casa, minha mãe me disse, ou “Get Me Away From Here, I'm Dying”, do Belle em Sebastian). Há uma música para o começo da festa, outra para o momento do brinde e essa é a mais difícil. Precisa ser algo popular sem ser vulgar. Que tenha sentido para os noivos, mas não seja uma incógnita para os convidados. Que seja alegre, mas não festivo. Bonito, mas não triste. Uma música que praticamente não existe.

Se algum dia você já imaginou em fazer um filme, provavelmente já pensou na trilha sonora dele e talvez tenha se confundido com as opções. Pois saiba que na vida real é muito pior. E não há como fugir desse desafio.

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