O vácuo da existência

Buracos negros são estruturas complexas e difíceis de entender. Peça para um astrofísico lhe explicar o assunto e você escutará diversas teorias sobre mundos paralelos, buracos de minhoca, antimatéria e saíra da conversa sem entender nada e com a sensação de que seu cérebro se metamorfoseou em manteiga Aviação. Numa definição simples da fonte universal de conhecimento, Wikipédia, o buraco-negro é uma área do universo em que nada, absolutamente nada, consegue escapar. Uma distorção do espaço-tempo em que o tempo para e o espaço deixa de existir. Complexo, não?

O que podemos concluir é que o Buraco Negro é uma área em que as coisas entram e nunca mais saem. Um espaço, ou uma ausência de espaço em que as coisas desaparecem. Em suma, podemos dizer que o buraco negro é a mesma coisa que a parte embaixo do banco do seu carro.

Essa área, aparentemente pequena dentro do espaço total do carro, é responsável por alguns dos mais misteriosos desaparecimentos já registrados pela humanidade. Este compartimento é uma pequena filial do Triângulo das Bermudas. Se alguma coisa cai por lá, é melhor você esquecer. O objeto nunca será encontrado, Óculos, moedas, cartões, canetas, celulares. Não importa o que seja. 
Mesmo nos carros esportivos, em que o banco é quase no chão, há espaço para o desaparecimento

Se um dia a ciência descobrisse uma maneira de resgatar esses objetos, imagino que as reservas financeiras do mundo seriam restabelecidas e não haveria mais crise mundial. Um achado histórico, já que os carros mais antigos teriam moedas de várias épocas, algumas raras. Existem carros com papelarias inteiras de tantas canetas adormecidas embaixo do banco. Aliás, o espaço mais perigoso de todos é aquele vão na lateral do banco, próximo ao freio de mão.

O caso mais curioso é o dos celulares. Geralmente não ligamos para as moedas e canetas porque elas têm baixo valor, ao contrário dos celulares, cada vez mais caros. Quando o aparelho entra neste vácuo de existência, nossa tendência é pegar outro telefone e acioná-lo, em busca de sermos guiado nas trevas pelo seu toque, vibração ou iluminação. De fato, nós ouvimos o toque, mas não conseguimos encontrá-los. Em alguns casos, alguém chega até a atender o seu celular, o que significa que a parte embaixo do banco é uma espécie de portal para o mundo paralelo. Acredito que o Bruno e o Macarrão esconderam o corpo da Eliza Samúdio justamente ali.

Outro espaço do carro que também distorce o espaço tempo é o vão que separa o banco de trás do porta-malas. O cinto de segurança vive escapando para essa parte e vez por outra algum pequeno objeto escorrega para lá e nunca mais será encontrado. Enfiamos a mão pelo pequeno espaço, tentamos agarrar alguma coisa e por vezes até tateamos o objeto, antes de ele escorregar por outro vão que provavelmente dá acesso a parte mecânica do automóvel ou que o transforma em poeira cósmica.

Os vãos são extremamente perigosos. Veja os vãos dos sofás. Existem alguns sofás em que o vão dá acesso a uma espécie de fundo falso, em que se um objeto se perde por ali você precisaria abrir o sofá com uma faca, motosserra ou outro objeto cortante em busca dele. Dinheiro, cartas, bilhetes premiados da Mega-Sena. Os sofás já engoliram muitos sonhos.

Ainda mais estranho é o fato de que por vezes, esses objetos que desaparecem nesses locais, acabam por reaparecer em outro local totalmente misterioso: o bolso de uma jaqueta guardada no armário. Quantas vezes você não foi até seu armário para pegar uma jaqueta para se proteger do frio e ao pegá-la encontrou cinquenta reais, um facão de grama ou aquele par de óculos que você perdeu em 1992, você se lembra bem do dia em que ele escorregou entre seus dedos e foi parar embaixo do banco do carro.

Há alguma ligação misteriosa entre os espaços, que faz com que objetos tenham a incrível capacidade de se teletransportar. Será que esses objetos sempre estiveram por ali? Eles coexistiram em dois locais diferentes ao mesmo tempo durante algum tempo? O que aconteceu com eles durante esses anos em que eles estiveram desaparecidos? Eles ficaram vagando no limbo durante algum tempo, até reencontrar o caminho de volta para casa?

Acredito que o espaço embaixo do banco seja ainda mais metafísico e que por lá muitas outras coisas fiquem guardadas. As boas ideias, as soluções dos problemas, as respostas para todas as perguntas. Todas se perdem lá. Quem sabe seja possível encontrá-las no bolso de alguma calça de moletom.

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