O interminável 7x1

Há um ano o povo brasileiro acordava para um grande dia. Brasil e Alemanha disputariam a semifinal da Copa do Mundo e nós, os brasileiros, poderíamos avançar para a grande decisão em casa. Todos nós sabemos como aquele dia terminou.

Olhando para os fatos, um ano depois, podermos perceber que a tragédia era clara e evidente. Estávamos sem nosso melhor jogador, nosso capitão – liderança técnica, apesar de chorar em cima da bola – estava suspenso, a seleção brasileira chegou a Belo Horizonte em um avião com a inscrição “É Tóis”, o Parreira dava entrevistas autoconfiantes, jogamos mal em todas as partidas da Copa e Felipão parecia empolgado com o clima de “contra tudo e contra todos”.

Do outro lado, a seleção alemã havia batido sem dó em Portugal, tinha se acertado na Copa e apresentava um meio de campo muito sólido, com ótimos jogadores em um trabalho consistente de pelo menos cinco anos. Cara. Era certeza qe ia dar merda, mas nós não conseguíamos ver isso. Continuávamos presos a velha devoção de que o futebol brasileiro é o melhor do mundo e que a camisa amarela venceria jogos sozinha.
Oito minutos de jogo. Estava 0x0, mas observem a liberdade dos alemães em frente a área brasileira. Veja o jogo e quantas vezes isso ocorreu antes do massacre começar.

Felipão escalando Bernard porque o menino tinha “alegria nas pernas”, a seleção utilizando bonés com a inscrição #ForçaNeymar, o hino nacional a plenos pulmões, com David Luiz transfigurando segurando a camisa do Neymar. A empolgação do Galvão Bueno, o André Rizek falando que o meio-de-campo da Alemanha era fraco na marcação, fatos que surgem em retrospectiva, até notarmos que o Brasil estava deixando um espaço enorme no meio-de-campo, que aos 11 minutos o Thomas Müller fez um gol livre na marca do pênalti, o Brasil continuava deixando espaços e aos 22 minutos o Klose fez dois a zero.

O que vimos depois foram os sete minutos mais surreais da história do futebol.

Os alemães tocavam a bola de maneira hipnótica, como se um campo magnético afastasse os brasileiros e mantivesse a pelota grudada em seus pés. Eles tocavam por toda a eternidade até entrar com a bola dentro do gol, enquanto o Dante corria de um lado para o outro como se fosse um ser de lama que solta faíscas nos Power Rangers e logo o placar estava em 5x0. Os alemães passaram o resto do jogo simulando um aquecimento intenso e constrangidos fizeram mais dois gols, para chegar ao 7x1.

7x1.

Um placar humilhante. A maior derrota do futebol brasileiro, tão humilhante que não sei se dá para chamar de tragédia. Mesmo a Arábia Saudita se sentiria humilhada com um placar desse. Nem uma bomba atômica é capaz de abalar tão profundamente a moral de um povo.

Um resultado cabalístico que é o sinônimo de todos os fracassos da vida. Todos nós nos sentimos assim de vez em quando, como se fossemos Dante e David Luiz atordoados diante do magnetismo alemão. O 7x1 é a vida que nos bate diariamente.
Você é um desses caras de amarelo diante dos problemas da vida

Um ano já se passou desde essa data histórica e o que mudou? Continuamos apanhando nosso 7x1 diário. O Brasil não é um país entregue a redenção, apesar de ficarmos esperando por esse momento.

O futebol continua na mesma. Felipão e Parreira, a dupla que comandava nosso futebol, tentou justificar a derrota quando a única atitude plausível que os cabia era cometer uma forma espetacular de suicídio. Parreira leu a carta da Dona Lúcia, num momento tão humilhante que foi equivalente a um holocausto futebolístico.

Dunga assumiu a seleção brasileira, mostrando que vivemos em um Dia da Marmota e temos uma visão estreita sobre o futuro. O Brasil perde uma Copa América de maneira ridícula e qual é a solução? Formar uma comissão de notáveis, compostas por ex-técnicos da seleção para discutir o futuro do nosso futebol.

A reunião aconteceu na segunda-feira, mas poderia ter sido hoje, para simbolizar o 7x1 que ainda não terminou.

Estavam lá o Zagallo, o cara que dirigia um time do Brasil atropelado pela França em 98. Estava lá o Carlos Alberto Silva, que as pessoas achavam que já havia morrido. Estava o Parreira, sempre ele, o nosso arauto do fracasso. O Candinho, que foi um auxiliar técnico, o Ernesto Paulo que poucas pessoas se lembram que dirigiu o Brasil em um único amistoso em 1991 contra o País de Gales. Estava lá o Falcão e Sebastião Lazaroni, o treinador que dirigiu a única seleção que consegue ser tão mal lembrada quanto a seleção de 2014.
Parreira estava lá quando o Brasil perdeu a Copa de 2006 com uma geração brilhante, Parreira estava lá no
7x1 e agora vai estar lá discutindo o futuro do futebol brasileiro.

É como chamar uma comissão de raposas para discutir a segurança do galinheiro.

É como se a Dilma resolvesse juntar Collor, Sarney, FHC e Lula para discutir os problemas do Brasil.

Como se os Estados Unidos chamassem Bin Laden e seus amigos para discutir o que poderia ser feito pela segurança nos aeroportos.

O 7x1 não terminou e jamais vai terminar. O 7x1 é o nosso Dia da Marmota. Nossa maldição. É nossa vida.

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