Douglas Costa, o patriota

Poucas coisas podem ser piores do que perder uma partida de futebol nos pênaltis. Repentinamente, toda uma epopeia de 90, ou 120 minutos, é resolvida em dez chutes a onze metros de distância do gol. Não haverá uma segunda chance. Um mísero erro será capaz de amaldiçoar um país ou uma torcida para todo o sempre.

Teoricamente, a situação não é tão complicada para o batedor de pênaltis. O gol tem 17,5 m² de área e o único obstáculo que pode te impedir de alcançar a meta é um goleiro, um pálido cidadão de luvas praticamente impotente diante daquele latifúndio de redes. Uma pobre alma, prestes a se tornar herói e carrasco, sem nada a perder além de uma partida e sua honra.
Ninguém culparia André Santos caso ele não conseguisse acertar o cinegrafista em cima da grua

O problema é justamente esse. Nada que é teoricamente fácil, se torna simples na prática. O medo de errar atrapalha. Você não pode errar, o erro seria um fracasso tremendo. Você pode errar um cálculo de matriz, você pode errar uma mosca a 300 metros de você. Mas não pode errar uma bola em um gol localizado a onze metros de distância. Esse é o problema.

O pavor dos pênaltis já afundou craques e bagres. De Roberto Baggio a Elano, chegando até Éverton Ribeiro e Douglas Costa. Sim, no último sábado o Brasil foi eliminado da Copa América pelo Paraguai, graças aos pênaltis perdidos por Éverton Ribeiro e Douglas Costa. Os dois foram culpados pela precoce eliminação brasileira, se transformaram nos novos inimigos da nação.

Três dias depois, um novo fato mudou a visão das jogadas. Ontem a noite, a Argentina enfrentou justamente os paraguaios e eliminou nossos algozes pelo cataclísmico placar de 6x1. Não chegou a ser o inesquecível 7x1, mas foi uma derrota ruim, ridícula. Se o Brasil não tivesse perdido para o Paraguai, nós é que enfrentaríamos os argentinos. Estaríamos sujeitos, porque não, a outra derrota para história. E para nossos rivais locais.

A derrota dos pênaltis é terrível porque ela deixa o amargo sabor da dúvida em nossas mentes. Uma derrota nos pênaltis não significa que o seu adversário foi superior. Significa apenas que ele foi mais frio na hora em que as incertezas do mundo foram colocadas sobre a marca da cal. Você fica remoendo o pênalti perdido e tudo aquilo que poderia ter sido, mas que não ocorreu.

Mesmo desprovido de uma perna,
Douglas Costa é um herói nacional
No entanto, a derrota nos pênaltis ainda é uma derrota com honra. Justamente porque você não foi superado pelo adversário. Perder nos pênaltis não é humilhante. E na vida, nada é pior do que a humilhação. Nada é pior do que ver seus zagueiros correndo desnorteados enquanto os adversários tocam a bola infinitamente até alcançar o fundo da rede. Nada é pior do que levar um 7x1. A humilhação vai além das quatro linhas e passa a atingir todo um país.

Vamos pensar no Douglas Costa, novamente. Quando ele perdeu aquele pênalti, chutando a bola caprichosamente por sobre a meta paraguaia, ele parecia ser o vilão da vez. Mas, o tempo, sempre ele, foi o responsável por mostrar que Douglas Costa foi um herói. Aquele chute para fora foi um gesto de coragem. Evitou que, três dias depois, o Brasil passasse por alguma coisa muito pior do que uma eliminação simbólica nos pênaltis.

Lembre-se da Copa, lembre-se do 7x1. Dois jogos antes daquele histórico dia, o Brasil enfrentou o Chile pelas oitavas de final. O jogo terminou empatado em 1x1 e foi para os pênaltis, onde o Brasil se classificou. Naquele dia, Willian e Hulk desperdiçaram suas cobranças, mas Júlio Cesar os redimiu com duas defesas. No final, o pornográfico Jara bateu na trave e classificou o Brasil, transformando Júlio César em herói. Besteira.

O tempo mostrou que Júlio César odeia o Brasil. Se ele permanecesse parado no meio do gol dando de presente a vaga para o Chile, nós seríamos eliminados ali, ficaríamos tristes, mas a vida seguiria sem sete chagas expostas em nossas vidas. Os atos de Willian e Hulk naquele dia foram incompreendidos.

Agora sim, com a experiência adquirida nos massacres da vida, nós podemos compreender. O pênalti para fora de Douglas Costa foi um ato patriótico. De defesa da honra da pátria.

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