Dilma, a Oradora

Quando a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, nasceu, Deus disse: “vai lá e confunde o pessoal, menina” e assim ela fez. Se Dilma tem uma habilidade inegável, esta é a de falar coisas que no geral não fazem o menor sentido. Sua linha de raciocínio não segue padrões lógicos e seus improvisos tendem ao absurdo. Para piorar, sua dicção não é das melhores e a expressão corporal dela também não a ajuda.

Dito isso, umas das melhores páginas brasileiras de humor brasileiras na atualidade é o portal do Palácio do Planalto. Não por outro motivo que não seja o de que eles divulgam as entrevistas e discursos da Dilma transcritos na íntegra, sem nenhuma alteração para dar mais lógica ou sentido ao emaranhado de palavras. O banco de discursos presidenciáveis é um convite a diversão e boas risadas na companhia de pessoas agradáveis.

O discurso que Dilma proferiu durante o lançamento dos Jogos Mundiais Indígenas já é um clássico. Sua fala sobre a mandioca (“Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil”) já é um clássico. Mas o discurso reserva outros momentos marcantes, como sua fala sobre a mulher sapiens (pior trocadilho da história) e um misterioso tratado filosófico sobre a bola, que espantosamente quica e representa uma atividade lúdica, cujo fim é ela própria.

Meu momento preferido, no entanto, é o que ela fala sobre o governador do Piauí, Wellington Dias: “que nós carinhosamente chamamos 'o índio', e que se caracteriza pelo fato de que todos nós sabemos que se ele pular uma janela é bom a gente pular atrás, porque ele descobriu alguma coisa absolutamente fantástica”. Que tipo de governador é esse que resolve pular janelas e que ainda leva outras pessoas a o seguirem atrás de coisas fantásticas? Que frase mais sem sentido.

Bem, o discurso da mandioca já se eternizou no imaginário popular. Mas não é preciso procurar muito para encontrar outras pérolas do humor nonsense. Cliquei para ver um discurso que Dilma fez nesse mesmo dia, um pouco mais cedo, em uma solenidade de comemoração do Dia Olímpico.

“Esse é o tempo que falta para que o Rio de Janeiro se transforme no centro esportivo do mundo, se transforme no local onde milhares e milhões... milhares de atletas, milhões de pessoas virão aqui assistir aquele que é o evento que comemora, sobretudo, a paz entre os povos, mas também a grandeza e a expressão maior da humanidade que é essa capacidade de julgar, de concorrer, de se esforçar, de se superar”, diz a presidente.

Essa bela confusão entre milhares e milhões e a constatação de que as olimpíadas comemoram a maior expressão da humanidade que é a capacidade de julgar. Nunca tinha enxergado as Olimpíadas como um grande Supremo Tribunal Mundial, mas é interessante essa visão de que o que vale nos jogos olímpicos são aqueles jurados da ginástica e dos saltos ornamentais.

A parte das entrevistas não deixa de ser menos deliciosa. Destaco e encerro esse post sugerindo a leitura dessa brilhante entrevista a um jornalista mexicano, que tem trechos brilhantes, como esse:

Jornalista: Maia.
Presidenta: A Maia é mais embaixo, é ali na península do Yucatán, não é?
Jornalista: Isso.
Presidenta: Mas a do centro do México, ali, ali na...
Jornalista: Essa é Asteca.
Presidenta: Essa é Asteca? Não é Tolteca, não é... Porque...
Jornalista: Não, Tolteca é mais...
Presidenta: Não, me diz o seguinte: as duas pirâmides não são astecas?
Jornalista: Não, totalmente, não. Mas eu também não sou expert em...
Presidenta: São... Segundo... Por exemplo, eu fiquei estarrecida, então corri atrás para saber. Segundo se sabe, é de uma civilização anterior.
Jornalista: Anterior, claro.
Presidenta: Anterior.
Jornalista: Que os Astecas dominaram pela sua vez.
Presidenta: Que os Astecas dominaram.
Jornalista: Exatamente.

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