O problema do aumentativo

O Mensalão, o famoso esquema de corrupção que tomou o país de assalto lá nos idos de 2003 se revelou uma verdadeira tragédia para o Brasil. Não falo pelos problemas gerados pelo desvio de dinheiro, pela descrença na política e todos as consequências da corrupção. A tragédia a que eu me refiro é linguística.

Antes de Roberto Jefferson pegar os microfones e espalhar a merda primitiva no ventilador, esquemas de corrupção não eram conhecidos pelo seu aumentativo. A existência de um “mensalão” ludibriou a imprensa nacional, que desde então passou a se referir a todo e qualquer esquema de corrupção com o aumentativo.
Roberto Jeffersão, o culpado

O próprio Mensalão já teve suas variáveis. Tivemos o Mensalão do DEM, o Mensalão Tucano, o Mensalão da Puta Que Te Pariu. Não vamos negar: esse nome é ridículo. Se ao invés de Mensalão, a prática de pagar um dinheiro mensal aos parlamentares para que eles seguissem as orientações do Governo tivesse um nome melhor, não duvido que o escândalo tivesse nos proporcionado uma guerra civil.

A Operação Lava Jato tem dominado os noticiários há praticamente um ano. Gera discursos raivosos, inúmeras fases desenvolvidas misteriosamente em Curitiba e manchetes, muitas manchetes. Não derrubou ninguém importante. Por que? Porque a imprensa passou a chamar a escandalosa rotina da Petrobras de “Petrolão”.

O Petrolão supera de longe o ridículo provocado pelo nome do Mensalão. Fale Petrolão três vezes seguidas em frente ao espelho e o Nestor Cerveró vai aparecer na sua casa e você sentirá um constrangimento profundo com uma leve tendência suicida.

Auto-retrato de Nestor Cerveró
Vamos lá, o Petrolão nunca vai derrubar ninguém porque todas as autoridades sentiriam vergonha de derrubar quem quer que seja por conta de um negócio com um nome desses. Ok, roubaram dinheiro da Petrobras. Ok, deram um prejuízo danado, receberam propina de empreiteiras e outras coisas do beabá da política nacional. Mas Petrolão não dá.

O cartel do metrô de São Paulo foi chamado de Trensalão. Precisa dizer que não vai dar em nada?

Vamos lembrar do único presidente retirado do poder até hoje. Ele caiu por uma série de esquemas de desvio de dinheiro, pagamento de propina, caixa 2 em campanha e etc. Mas o ponto inicial, aquele que marcou o começo da queda de Collor foi a revelação de que um Fiat Elba para uso pessoal do presidente foi comprado com dinheiro ilícito.

Parece bobagem, não? Parece que já vimos coisas piores, não é mesmo? Mas na época ninguém resolveu chamar o caso de o Elbão. Ou do Collorzão. Se isso tivesse acontecido, certeza que Collor teria terminado seu mandato e viveríamos até hoje com poupanças confiscadas e algum plano Cruzeiro III.

Precisamos abolir o aumentativo. Acabar com essa mania de chamar estádios de Itaquerão, Engenhão e etc. Simplesmente porque soa horrivelzão.

Comentários