Impeachment

Você se lembra o que estava fazendo no dia 29 de setembro de 1992? Eu lembro. Na tarde desse dia eu estava na casa da minha avó no bairro da Morada do Ouro em Cuiabá, enquanto deputados votavam pela abertura de um processo de impeachment contra o presidente Fernando Collor. Eu tinha cinco anos e entendia muito pouco daquilo, mas lembro que cada um dos 33 deputados que votou contra o processo foi tratado como um leproso.
Naquela época o Congresso já aprontava essas de cantar o hino nacional quando corrigiam alguma merda feita por eles próprios

Lembro que o presidente iria sair depois daquilo e aquilo me parecia um consenso nacional. Collor deve ter sido o presidente mais odiado do país, desde o dia em que bloqueou as cadernetas de poupança e fez com que muitos trabalhadores liberais ficassem sem acesso as suas economias. Era uma medida para tentar bloquear o consumo e consequentemente bloquear a inflação. Medida que fracassou, assim como o governo Collor.

As pessoas foram as ruas pedir sua renúncia, apoiados numa série de denúncias e depoimentos que afirmavam que o político alagoano era beneficiado em um esquema de corrupção, operado por PC Farias. Desviava dinheiro público para fins público e tudo isso foi uma bomba. Collor saiu execrado do poder, entrou com um processo na justiça e anos mais tarde foi absolvido de tudo. PC Farias foi misteriosamente assassinado e Collor virou senador. Hoje, já existe quem diga que Elle foi um injustiçado.

O evento com Collor ajudou o impeachment a entrar na boca do brasileiro. Com seis anos de idades, todos meus colegas sabiam falar a difícil palavra, mas todos nos assustamos quando descobrimos como é que ela era escrita. Palavra que ficou sumida do noticiário nos últimos anos, mas que agora volta com tudo contra a presidente Dilma Rousseff.

Para destituir Dilma de seu mandato, o principal argumento é o caso de corrupção na Petrobrás, associado ao mau momento econômico do país, que segundo os mais gabaritados especialistas, aconteceram por culpa dos erros de Dilma. Curioso é que os problemas parecem que pioraram depois que Joaquim Levy, aclamado pelo mercado como um messias da austeridade, assumiu o comando da Fazenda nacional.
Esse esbranquiçado aí é o cosmos potente do Levy

O governo Dilma no geral é difícil de ser defendido. É uma gestão que parece gastar todas suas energias no jogo político com o mostro fisiológico do PMDB e de toda a base aliada e não tem gás para realizar nenhuma mudança. Para piorar, Dilma é um poço de falta de carisma, mas não vejo razões para que a mulher seja tirada de lá, se não houverem provas de que ela usou o cargo de presidente para obter recursos públicos utilizados em fins particulares.

O pior do movimento de impeachment que ecoa em panelas de teflon em algumas cidades brasileiras, é a absoluta falta de desconhecimento de boa parte da população sobre o processo sucessório. A maior parte das pessoas age como se com Dilma retirada de lá, Aécio Neves assumisse o cargo utilizando uma capa de super herói. Mas não é isso que vai acontecer. Quem assume é o vice-presidente Michel Temer, do PMDB. Depois seria a vez do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também do PMDB, seguido pelo ilustríssimo Renan Calheiros, presidente do Senado e também do PMDB.

Pior ainda são os adeptos da ditadura militar. Imagine um regime que tenha endividado o país, promovido uma série de atrasos na indústria e suprimido direitos individuais da população, perseguindo, torturando e matando seus opositores. Esse regime existiu e existem pessoas que o querem de volta. São pessoas perigosas que utilizam uma retórica muito forte de que se baseia no "eu estou certo e você está errado".

Naquele lendário dia no final de 1992, o futuro não parecia ser tão perigoso como agora.

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