A Pamonha Final - Parte 2


Espero que vocês tenham lido o post anterior, porque eu não estou com paciência para recapitular todos os fatos que me trouxeram até a presente situação. O fato, é que no último sábado eu reuni a coragem necessária para me deslocar até a Casa de Diversão Noturna Carnicentas para me encontrar com Pai Jorginho de Ogum. Precisava resolver de vez esse mal estar com o babalorixá, ou quem sabe, acabar de vez com tudo.

A essa altura eu já havia lido o relato de Vinícius Gressana, que trouxe em primeira mão a informação de que Jorginho havia aberto uma pamonharia gourmet no quintal da Carnicentas. Informação que me deixou chocado já que, durante todo esse tempo, eu sempre havia cuidado da imagem pública do pai-de-santo e ficar sabendo dos seus negócios em outros blogs, fez com que eu me sentisse furado.

Ao chega no local, fiquei surpreso novamente. Encontrei por lá vários carros estacionados e dezenas de pessoas com camisas quadriculadas, bigodes e óculos de aro grosso comiam e fotografavam pamonhas com os seus iPhones. Os pés de bocaiuva conferiam um ar rústico ao local, contrapondo a modernidade dos seus clientes e criando um cenário pós-futurístico.

Ao entrar no local, me deparei com o Cão Leproso utilizando uma gravata borboleta. Descobri que ele era o maitrê da pamonharia, responsável por servir a carta de vinhos aos convidados. Perguntei onde estava Pai Jorginho de Ogum e o cachorro sem braços não me disse nada. Normal. Cão Leproso é um homem de poucas palavras. Ou melhor, um cachorro de poucas palavras. Normal. Cachorros geralmente não falam.

Fui entrando pela cozinha e encontrei Marcão preparando seu famoso arroz com smegmam. Segurei o vômito no céu da boca e perguntei por Pai Jorginho. O velho pedreiro calejado pelo tempo se calou. Insisti, mas ele não moveu um único músculo e nenhuma ruga de sua face se moveu. Ele saiu carregando a porção de arroz que seria inacreditavelmente servida aos clientes.

Circulei pelo ambiente e ninguém me falava nada. Por um instante, me senti como o Bruce Willis no filme “O Sexto Sentido”. Até que Jorginho de Ogum apareceu na minha frente. Virou o rosto e tentou desviar do meu caminho, mas eu o interceptei. Ele gritou pelos seguranças, mas eles não apareceram. Talvez porque não existam.

Perguntei o que afinal estava acontecendo, porque ninguém ali dentro falava comigo e porque ele tentava fugir. Ele me respondeu que era para eu saber como é que é ser ignorado por quem até então era considerado um amigo. Falei para ele deixar de viadagem e ele afirmou que a viadagem era algo interente a sua existência terrena.

Falei que fui ali para aparar as arestas, não deixar nenhum mal entendido contaminar o ambiente. Jorginho se mostrava indiferente. O fato de eu não ter ido até a sua casa no dia 1º de Janeiro para colher as previsões para o ano novo havia lhe ferido mortalmente. Perguntei para ele quais eram as previsões e ele me disse que eu não precisava me sentir obrigado em fazer isso só por educação. Falei que tudo bem, mandei-o a merda e disse que iria embora.

Na hora em que eu estava entrando no carro, Pai Jorginho de Ogum gritou para que eu esperasse. Disse que queria conversar melhor, que não poderíamos ser precipitados. Me convidou para entrar e comer uma pamonha. Falei que não gostava de pamonha. Ele me ofereceu um drink. Lembrei que eu nunca aceitava seus drinks por duvidar de sua procedência. Em um ultimato, ele perguntou se eu não queria escutar umas piadas sobre hipsters. Aceitei. Esse velho conhece meus pontos fracos.

(Continua)

Comentários

Gressana disse…
A imagem de capa do post é melhor e mais ilustrativa do que qualquer revista semanal.
Quem diria. Até o Cão Leproso deu de ombros.