As maravilhas do fim de ano

Os poucos pouco afortunados que precisaram sair de casa para ir trabalhar nesta segunda-feira já devem ter percebido um clima diferente. Não, não estou falando do espírito natalino com suas guirlandas purpurinadas e velhos barbudos vestidos de vermelho que andam em carruagens puxadas por animais desassistidos pelas ONGs de proteção animal e que entregam presentes para as criancinhas que se comportaram bem e sabe-se lá porquê isso faz com que as pessoas pensem em valores universais.

Também não estou falando do começo do verão, essa estação marcada pelas temperaturas altas e pelas chuvas abundantes que proporcionam alguma grande tragédia em uma região metropolitana do país. Até porque, já estava bem quente antes do verão começar e a mídia tenta justificar o calor por conta desta estação superestimada em que as propagandas promovem o desejo coletivo de promover uma gomorra particular, transformando um mês em uma Las Vegas de comédia norte-americana.

Quem foi trabalhar hoje percebeu o trânsito muito mais tranquilo. Aquele trajeto que você demorava 2 horas e 47 minutos, agora pode ser percorrido em 10 minutos. As ruas já estão mais vazias, os semáforos fluem normalmente e bolos de feno passam pelas rotatórias.
Avenida Paulista

O ano de 2014 foi amaldiçoado pelo deus dos feriados, que fez com que os inúmeros e festejados recessos do segundo semestre fossem todos alocados malditamente em finais de semana. Por outro lado, fomos agraciados com o Natal e o Ano Novo caindo em quintas-feiras. Isso faz com que a quarta-feira seja ponto facultativo e que a sexta-feira seja emendada. A semana passa a ter dois dias apenas e isso é um convite para colocar suas coisas na mala, dar uma banana para o cotidiano e se mandar para algum destino paradisíaco, longe das grandes aglomerações urbanas.

Assim sendo, as grandes e médias cidades, principalmente aquelas que não têm acesso a uma porção do oceano adornada por uma faixa de areia, ficam quase que abandonadas. As poucas pessoas que ainda resistem no local, acabam por se aglomerar em shoppings centers, se acotovelando em busca de algum presente para um ente querido, que você já tinha até se esquecido de que tinha que comprar um presente porque a rotina é uma correria louca e insana.

Aí sim podemos perceber que o problema das cidades é que temos pessoas demais nela e mais do que isso temos carros demais. O transporte público é um caos e assim sendo você prefere ficar duas horas preso no trânsito dentro do seu solitário carro ao invés de ficar empacotado entre sovacos fedorentos em ônibus. Não há viadutos, trincheiras, pontes, acessos e manobras viárias que resolvam o verdadeiro problema: tem carro demais. É preciso mudar isso.

Mas, é claro que as pessoas que deixaram as grandes cidades não vão simplesmente desaparecer. Como já falamos, essas pessoas se transportaram para destinos paradisíacos, geralmente situados em cidades menores. E esses pequenos paraísos litorâneos e que acabam por conhecer o inferno. Cidadãos estacionando seus carros em qualquer lugar que meramente lembre uma vaga e tendo que circular a pé e lutar ferozmente por um metro quadrado na areia, entre tampas de garrafas e canudos abandonados por outros indivíduos sem consciência cívica.
São Miguel da Paripueira

Um dia essas pessoas voltarão para a capital e tudo voltará ao normal. As rotatórias voltaram a virar um palco de conflitos mortais por espaço e o trajeto voltará a ser percorrido em mais de três horas, entre lamentações daqueles que estavam nos lugares paradisíacos ou que estavam enfrentando um trânsito mais tranquilo. Já o litoral voltará a ficar desabitado, com pescadores indo para o mar sem saber se um dia vão voltar e cachorros comendo resto de camarão.

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