Três programas em conflito

Há quinze anos, a Rede Globo resolveu investir pesado na sua programação, ao mesmo tempo em que desfalcava os seus principais adversários. Fez algo parecido com o que faz o Bayern de Munique em todas as temporadas. Contratou Luciano Huck que fazia sucesso com mulheres seminuas na Bandeirantes, contratou Jô Soares que tinha um talk show no SBT e também trouxe Ana Maria Braga da Record.

Um papagaio, incomoda muita gente.

Ana Maria Braga chegou para dominar as manhãs da programação global. Seguia a sua fórmula anterior, de preparar as mais variadas receitas, acompanhada de um papagaio humorista, que é uma espécie de amigo imaginário e ombudsman do conteúdo exibido. Námaria é mais do que uma apresentadora, ela é a melhor amiga da dona de casa que está preparando o almoço da família na parte da manhã.

Assim, caberia a ela a função de manter a dona de casa informada sobre os mais variados temas. Saúde, notícias gerais do mundo, cuidados domésticos. Uma responsabilidade e tanto. De fato, por vezes poderíamos assistir uma matéria sobre furúnculos antecedendo uma torta de bacon.

De um tempo para cá, surgiu na manhã global o programa “Bem Estar”. O programa versa sobre assuntos gerais relacionados à saúde, práticas de exercícios. Recebe especialistas e mantém um tom apocalíptico sobre os temas mais bestas como: lavar as mãos, posição na hora de dormir, coçar a cabeça. O programa mostrará a forma mais correta de fazer isso e advertirá que proceder de outras maneiras irá te matar.

No programa de hoje iremos discutir se frutas decorativas podem, ou não, fazer parte da alimentação.
A existência dos dois programas já criava um conflito entre os telespectadores. A impressão era que o “Bem Estar” seria apenas um quadro da Ana Maria Braga. Mas como tudo que é confuso pode sempre piorar, ainda surgiu a Fátima Bernardes na história. Ela desfez seu matrimônio profissional com Willian Bonner e passou a comandar outro programa matinal na Globo.

O Encontro com Fátima Bernardes é uma mistura entre entretenimento e jornalismo, o que não costuma a dar certo. Ela recebe convidados, músicos, atores, pessoas comuns, que contam histórias, relatam experiências e discutem temas de atualidade. Sim, eu concordo com você. Esses três programas poderiam ser muito bem resumidos em um único programa com uma hora e meia de duração, ao invés de ocuparem as três horas atuais.

Se esses programas fossem condensados em um só, iria, entre outras coisas, contribuir para a saúde mental dos roteiristas e pauteiros da Rede Globo. Imagine como não sofre os editores responsáveis por arrumar assuntos para esses três programas? Acredito que eles conversam entre si e que rola um stress quando se descobre que dois deles iriam discutir o tema “tipos de travesseiro”. Igual a quando duas amigas vão a festa com o mesmo vestido.

Em um momento surreal, tivemos um Encontro com Fátima, sem Fátima. Algo como o Rock in Rio Lisboa.
Sério, o Bem Estar já discutiu como lavar as mãos. A Ana Maria Braga já fez matéria de mais de 20 minutos sobre o parto humanizado. Só no programa de hoje, a Fátima discutiu operações policiais, greve de sexo, amizades rompidas. Não deve ser fácil montar uma pauta para esses programas, dia após dia.

Será que existe uma espécie de banco de pautas repetitivas?Algo como o Globo Repórter, que sempre varia na tríade “novas descobertas da ciência para a sua alimentação”, “as maravilhas da Amazônia, imagens inéditas do acasalamento da jiboia” e “Glória Maria viaja para um país exótico”.

Quanto tempo é preciso para que a escovação de dentes volte para o Bem Estar? Depois de hoje, quando é que uma operação policial voltará a ser discutida no programa da Fátima? Quando é que alguém vai mandar o Louro José calar a boca? Gostaria de saber.

Comentários

Gressana disse…
Pois é. E a Tv Globinho acabou pra isso.