O que acaba com o mundo é o Instagram

No último domingo, uma porrada de brasileiros saiu às ruas para participar da festa da democracia. Como toda boa festa, ela acaba em ressaca para muito gente e em prisão para outros tantos. De norte a sul, milhares de pessoas foram presas pelos mais diversos crimes eleitorais, compra de votos, propaganda irregular e até mesmo por inofensivos selfies.

Sim, a onda do selfie é tão patética que deveria resultar em cadeia mesmo, mas o fato é que tirar foto do candidato em que você está votando na urna é crime. O voto é sigiloso e fotografar o seu candidato é uma das melhores maneiras de comprovar que você votou nele para receber benefícios financeiros por isso. A proibição de fotografar a urna é bem clara, mas várias pessoas registraram o ato – incluindo celebridades -, pararam num tumblr e algumas na cadeia.

Boa parte destes fotógrafos de urna não tinha nenhum objetivo criminoso. Eles queriam apenas postar essas fotos no Facebook e no Instagram. E aí é que está o problema. O Instagram é o grande mal do mundo. Ele é a rede social mais hedonista, niilista, nazista, passista, que existe. Se dedica quase exclusivamente a registrar os prazeres da vida para provocar inveja nas inimigas. O papel central que o Instagram ocupa na sociedade atual é uma das grandes razões para o mundo não evoluir.

Em junho do ano passado, as ruas brasileiras foram tomadas por centenas de milhares de manifestantes. Em todo o país as pessoas protestavam contra os mais diversos assuntos, vocês se lembram. Não eram apenas pelos 20 centavos, queríamos hospitais padrão FIFA, O Gigante Acordou, então apareceu o Mídio Ninja, O Pablo Capilé, os Black Blocks, enfim, vocês se lembram.

Apesar das manifestações terem conseguido algumas pequenas vitórias, pouco mais de um ano depois a sensação é a de que tudo continua igual. Uma sensação comum nesse mundo moderno, mas, a impressão é que a revolução das ruas morreu. E, se morreu, a culpa não é dos Black Blocks ou dos cubocards. A culpa é do Instagram mesmo.

Em pouco tempo, a difusa manifestação perdeu totalmente o foco e sua única razão de existir passou a ser postar fotos bacanas nas redes sociais que utilizam filtros que simulam defeitos clássicos de máquinas fotográficas antigas. A pessoa não sabia o que queria, mas passava dias planejando os cartazes que exibiria na rua. Os sites faziam galerias com as melhores frases, oficializando a revolta da hashtag.

Quando os protestos saem da rua e vão para a internet, eles simplesmente acabam. Tudo na virtualidade é efêmero e dura pouco. Os memes, as polêmicas merdas da semana. Sete dias é o tempo máximo que um assunto dura na internet. Sete dias é o tempo para o Luciano Huck aderir ao tema e acabar com tudo. Sim, Luciano Huck é uma espécie de catalisador da futilidade mundial e aposto que uma foto dele no instagram com um cartaz engraçadinho foi o que fez as pessoas voltarem para casa.

To be or not to be, já diria uma dessas bichonas personagens de Shakespeare. Ser ou não ser, mas que numa tradução ruim poderia ser “estar ou não estar”. No mundo de hoje tudo se baseia em estar lá. As pessoas vão em um show do Paul McCartney não porque admiram sua música – também por isso, às vezes, mas para estar lá. Tirar uma foto, colocar no instagram e dizer que foi lindo.

Se o Instagram fosse uma invenção mais antiga, é bem provável que a humanidade não chegasse aonde chegou. O Titanic teria afundado porque o capitão se distraiu tirando uma selfie. A Revolução Francesa não degolaria cabeças absolutistas porque o povo iria ficar fazendo check-in na bastilha. Quantas guerras não seria perdidas por pessoas postando fotos? Ninguém subiria o Everest porque lá não tem sinal de 4G para enviar a foto. Qual é a graça de subir uma montanha se você não puder contar para o mundo que está lá?

Tirar uma foto, dizer que estava lá. Era isso que movia as pessoas que tiraram fotos da urna eletrônica, com cartazes engraçados ou em um show qualquer. É isso que move o mundo para a ruína.

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