Na estrada com os Benga Boys

Zé Coveiro sai do palco exausto. Se apoia sobre uma bancada, abre uma garrafa de Jamel e vira 970 ml de cachaça de uma vez só. A cena pode assustar os desavisados, mas é normal para os fãs do Benga Boys. O grupo mais visceral do Hardcore mundial havia acabado de se apresentar no bar Underdog, durante o Hellywood Festival.

A apresentação durou 20 minutos, tempo suficiente para a banda enfileirar 43 músicas próprias, numa apresentação típica. O lugar e o público eram maiores do que os que a banda costuma a frequentar, mas isso não intimidou o grupo, que em dias terríveis chegou a tocar em trios elétricos em Salvador. “Nem me lembre desse maldito tempo, porra”, disse Coveiro.

Os tempos atuais são bons. Enquanto os Benga Boys permaneceram no palco, era possível escutar o bom e velho barulho dos ossos se quebrando e os gritos de dor e êxtase vindo da plateia. “A vitória já é nossa velho, fudemo com essa porra toda” disse o baixista Pedro Tolete, um tanto quando exaltado. “As outras bandas só tem bichinha, um povo grunge, hipster, emo, tudo veado”.

Ao final de todas as apresentações, um corpo de jurados iria eleger a banda vencedora do Hellywood Festival. Os ganhadores receberiam 10 mil reais para gastarem com o que quiserem. Perguntei a Zé Coveiro se ele já planejava o que iria fazer com o dinheiro e ele disse que não. “Planejamento é coisa de gente vendida ao sistema. Vamos gastar o dinheiro do jeito que der”.

A medida que as bandas iam subindo no palco, Zé olhava com desprezo. “Não se fazem mais bandas como antigamente. Em 1991 nós tocamos num festival na UFMT e os sobreviventes saíram de lá diretamente para derrubar o FHC. E olha que eu apanhei porque falaram que nossa música era de viado”.

Perguntado se eles estavam planejando lançar um disco novo, Coveiro foi agressivo. “Já não disse que não planejo nada, porra”. De fato, os discos do Benga Boys nunca são planejados, eles simplesmente acontecem. “Mas vou te revelar um negócio. Assim que eu terminar o reboco de uns muros lá no Pedra 90 nós vamos gravar um disco”. Perguntei se as letras já estavam prontas e ele me disse que não. Que ele sempre canta o que vem na sua cabeça na hora. “Depende do seu sentimento”, perguntei. “Porra nenhuma. Hardcore não tem sentimento”.

Os gritos na plateia aumentaram. Um vocalista de uma banda foi julgado Emo e justiçado pelo público presente. Um cidadão barbudo carregava duas costelas com um sorriso e sangue espalhado no rosto. “Ele teve o que mereceu”, afirmou o vocalista dos Benga Boys.

O dono do Underdog subiu ao palco para anunciar o vencedor do prêmio de 10 mil reais. Ninguém tinha dúvidas de que os Benga Boys seriam os campeões. E eles foram. Teriam dez mil reais para gastar com o que quisessem, sem planejamento. Mas os gritos de Pedro Tolete indicavam alguma coisa.
- Vamo pro puteiro! Vai faltar cachaça em Cuiabá!

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