Regular o chuveiro

Não sei se algum sociólogo, antropólogo, ou turismólogo já escreveu sobre o assunto, mas eu acredito que o chuveiro é um aparelho essencial para o desenvolvimento da sociedade contemporânea. Se as pessoas não pudessem tomar banho todos os dias, dificilmente conseguiríamos trabalhar em lugares fechados, morar em apartamentos, frequentar restaurantes.

Um mundo com pessoas que cheiram mal seria um mundo de pessoas distantes, com baixa taxa de natalidade e com muitas mortes provocadas pela falta de higiene, cadáveres decompostos em vias públicas e guerras por expansão territorial. Tomar banho contribuí para um melhor convívio pessoal, sucesso profissional e a paz mundial.

Pelos motivos acima citados, todas as pessoas costumam a ter um chuveiro na sua casa. Por mais que o chuveiro seja um aparelho como tantos outros, que podem ser adquiridos em finitas prestações nas Casas Bahia, eles estabelecem uma relação diferente com seus donos. Você talvez não tenha noção de que é a única pessoa capaz de acertar a temperatura do chuveiro da sua casa. Bem, você e as outras pessoas que o utilizam diariamente.

Uma das maiores frustrações do ser humano é tomar banho em um banheiro desconhecido e não conseguir achar a temperatura ideal da água. Aquela que você tão bem conhece no seu chuveiro, jamais será reproduzida facilmente em outros lugares. Sem falar na questão da vazão, algo que te faz se sentir em casa. Você vai se queimar ou vai se congelar na casa do seu tio, ou no hotel, ou aonde quer que seja.

O modelo de chuveiro mais popular nos hotéis é aquele que vem com uma chavinha em cima, oferecendo as opções inverno e verão. Ele tenta vender uma aparente simplicidade, num esquema oito ou oitenta de acordo com a temperatura ambiente. No entanto, essa simplicidade é uma falácia. O chuveiro tipo inverno/verão costuma a oferecer duas opções de água: fervendo ou congelando.

O cidadão que deixou a chave nesta posição, cla-
ramente tenta cometer suicídio
Na opção inverno, a água sai tão quente como um jato de um gêiser. Na opção verão ela praticamente congela antes de tocar o chão. Ainda há a possibilidade de colocar o chuveiro no modo desligado, mas ninguém que tentou essa função conseguiu sobreviver sem perder partes do corpo necrosadas pelo frio. Muitos morreram de hipotermia.

Para piorar, esse sistema ainda prega peças. Certa vez, tomei banho em um no qual a opção verão te queimava e a opção inverno descolava a pele do seu corpo e logo você começava a cheirar a churrasco. Nesses casos, só lhe resta àquela opção de ficar longe da água, se molhando com as mãos e sofrendo em silêncio.

Os hotéis também costumam a investir em um modelo neutro, com duas torneiras na parede, uma responsável pela água quente e outra pela água fria. Teoricamente, você conseguiria controlar tranquilamente a temperatura da água e tomar um banho prazeroso, mas a verdade é que é preciso ter um diploma em química para ajustar a temperatura da água corretamente.

O problema já começa na disposição das torneiras. Muitos hotéis se esquecem de sinalizar as torneiras com os tradicionais Q ou F ou nas cores azul e vermelha. Você precisa descobrir na prática, torrando ou necrosando o seu braço.

O procedimento padrão consiste em ligar uma das torneiras e descobrir qual é a sua temperatura. Depois, você vai dosando a outra torneira aos poucos, faz um ajuste aqui, outro ali e após uns vinte minutos e uma hidrelétrica ralo abaixo, você chega no ponto ideal, depois de pensar que faltava só um pouquinho, mas ter aberto a torneira demais e enfim. É um inferno.

Isso quando o chuveiro não tem um tempo de resposta demorado e você confunde qual é o quente e qual é o frio e quando acha que a água está boa ela subitamente esquenta e você morre ali mesmo, o corpo se dissolverá no calor e jamais será encontrado.

Por essa e outras a solução é só tomar banho em casa.

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