Papai Noel e Coelhinho da Páscoa

O domingo da Páscoa começou mais cedo para este repórter. Acordei de madrugada para cobrir uma pauta que meus editores me indicaram: como é a Páscoa de um Papai Noel. A ideia inicial era repetir a premiada matéria do final do ano passado, quando acompanhei atuação de um Papai Noel durante a noite de natal. A ideia inicial, confesso, era seguir a manhã de trabalho do Coelhinho da Páscoa, mas, não conseguimos encontrar nenhum. Recorri ao Papai Noel.

Cheguei à sua casa no Jardim Europa por volta das 3h da manhã. Papai Noel estava com seu hobby vermelho e aparentemente sem nada por baixo. Duas mulheres em lingeries baratas o acompanhavam. Assisti a vitória de Lewis Hamilton no Grande Prêmio da China, enquanto o Papai Noel se arrumava. Em pouco tempo ele apareceria vestido de uma maneira completamente diferente.

“Esse mundo está cheio de filho da puta pra falar que Papai Noel não existe, que Papai Noel leva saco nas costas, que anda rodeado por veados. Mas ninguém aparece pra falar que Coelhinho da Páscoa é lenda e tem o cu arrombado”, me disse um revoltado Papai Noel. “O pior é que eu existo e vou lhe contar uma coisa: coelhinhos da páscoa também existiam até um tempo atrás. Mas eles foram extintos”.

Demonstrei interesse e ele me contou a história. Convenhamos que o Coelhinho da Páscoa é uma pequena aberração. Um mamífero que coloca ovos, feitos de chocolate, além de tudo. “Antigamente os coelhos iam de casa em casa colocando os ovos e etc. Só que, acontece com todo mundo, vez ou outra eles eram interceptados. Se eu sou interceptado, eu dou umas risadas, abraço crianças e tudo mais. O coelho não. Se você vê um coelho gigante no seu quintal, o que você faz? Mete bala nesse monstro antes de perceber que acabou com a páscoa de milhares de crianças”.

Os coelhinhos também sofriam para se reproduzir, já que as chances de que do cruzamento com uma fêmea normal nascesse um macho que colocasse ovos de chocolate era de apenas 25%. Esse índice junto à caça indiscriminada e os acidentes de trabalho vitimou o último coelhinho da páscoa em 1998 na cidade de Muriaé. “O crack também foi um problema sério”, completou o Papai Noel.

A Associação Mundial das Fábulas Infantis convocou uma reunião extraordinária em setembro de 1999 e decidiram, lá em Bruxelas, que os Papais Noéis deveriam substituir os coelhinhos. A decisão polêmica quase resultou em um racha, mas os Noeís aceitaram que isso iria melhorar a condição de vida da categoria. Começaram a aparecer imagens de pessoas fantasiadas de Coelhinhos assustadores. “Nós gostamos de uma fantasia e passamos a ganhar mais dinheiro. Mas você sabe, isso trouxe uns excessos”, me disse o Papai Noel no momento em que apareceu na sala vestido de Coelhinho. Perguntei que excessos eram esses e ele me disse “você sabe porra”.

Papais Noéis não sofrem de nenhuma aberração genética que permite que eles coloquem ovos de chocolate. “Nenhum ovo passou no meu cu”, garantiu o desbocado Papai Noel. Pouco depois das 5h da manhã ele saiu de casa para entregar os ovos para as crianças da sua área. “Um problema nos dias atuais é o lobby feito pelas fábricas de chocolate. O molequinho pediu um chocolate com amendoim de uma marca, a concorrente vem oferecendo a da marca dela e ainda oferece uns extras. É difícil manter a ética nesse negócio”, disse.

Seu método de trabalho é semelhante ao que ele emprega na entrega dos presentes de natal, mas com alguns cuidados extras. “Tem que tomar cuidado com formiga. Tem uns retardados que colocam o ovo no jardim e as formigas acabam com tudo, criançada chora, os pais ficam com o cu no chão, é foda”. O trabalho ainda tem uma dificuldade extra: é preciso entregar tudo antes que o dia clareie. “Ninguém quer ser um cara vestido de coelho em plena luz do dia”, afirma.

Papai da Páscoa costuma a deixar as casas das famílias católicas para o final. “Esses carolas acordam cedo pra ir à igreja, na missa das 6h. Se eu chegar antes, encontro eles no portão e fode tudo. Então, enquanto eles estão rezando, eu estou guardando meus ovos na cesta de frutas”, disse. Ele gosta de colocar os ovos nas cestas de fruta, por uma questão estética. “Também para passar a mensagem de que frutas são importantes para a alimentação”, completou emocionado.

Por volta das 6h30 o Papai Noel já voltou para sua casa. Disse que pretende dar uma relaxada boa enquanto toma banho. Aproveitou pra dizer que tem frequentado a Carnicentas nos últimos meses e que o lugar é muito divertido.

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