Yes, nós temos subcelebridades

Não há morador em Cuiabá que não tenha tomado conhecimento do fato. No último sábado, durante um festival de música sertaneja, uma garota desconhecida e aparentemente muito louca resolveu tirar a roupa em público. O dia já raiava quando a nudez foi praticada e os muitos vídeos produzidos circularam rapidamente no Whatsapp e em poucas horas estava no Facebook, sem tarjas.

A opinião pública foi unânime em taxar a menina como prostituta. Discutiram o fato de que ela foi para o show sem calcinha, um claro sinal de que ela já queria, estava procurando. Dias depois, começaram a circular as imagens da garota dentro do camarim do cantor Ggussttavvo Llimma, nua, em poses que costumavam a ser publicadas na revista Sexy em tempos remotos e poéticos.

Foi o suficiente para que boa parte da sociedade defendesse que ela era uma piranha e que seria justo, e até necessário, que ela fosse estuprada por 47 homens e dois cavalos ao mesmo tempo, para que aprendesse a largar de ser besta. Não assusta, aliás, que uma pesquisa divulgada ontem revele que a maior parte de nossa população acha que o estupro é culpa da mulher e que elas merecem ser assediadas se não se portarem de maneira adequada.

Mas, enfim, esse texto não é sobre machismo e sim sobre subcelebridades. O único crime que a garota cometeu foi atentado ao pudor, uma vez que a legislação ainda não especificou o crime de “estar querendo dar”.

A melhor definição para uma subcelebridade é aquela pessoa que sempre é notícia e nós não entendemos por que ela virou uma notícia. Panicats, mulheres frutas, Nana Gouvêa. Ninguém sabe de onde elas surgiram, como elas vivem, como se sustentam, mas sabemos que elas caminham na praia, mostram mais do que deveriam em lugares públicos, postam fotos ousadas em redes sociais. Elas sobrevivem de serem notícias, mesmo sem terem proporcionado nenhuma notícia.

O exemplo mais bem acabado de todos é a “Peladona de Congonhas”. Uma mulher que trocou de roupa dentro do carro no aeroporto de Congonhas e desde então se mantém na mídia, forjando atropelamentos, queimando sutiãs em protesto por não conseguir trabalhar e, caramba, até que ponto nós chegamos?

Todos os exemplos de subcelebridades que nós citamos até agora tem uma coisa comum: elas atuam no eixo Rio-São Paulo, com visitas esporádicas a Paris ou alguma cidade brega dos Estados Unidos, onde elas conseguem ser notícia sem fazer nada de interessante também. A produção de subcelebridades é uma coisa exclusiva dos grandes centros do país.

A Despidona do Festival de Música Sertaneja quebra esse paradigma. A maneira como os fatos se seguiram depois de sua nudez, transformam-na na primeira subcelebridade genuinamente mato-grossense. Coloca Mato Grosso no rol de estados capazes de possuir este subgênero da subsociedade sub-brasileira.

Na primeira segunda-feira após o dia em que ela apareceu pelada, ela foi entrevistada por um site de notícias local. A matéria chamou tanta atenção, que o site quase saiu do ar pelo excesso de visitas. A notícia foi replicada ao infinito no Facebook e logo as pessoas começaram uma caçada em busca de suas fotos, suas origens e tudo mais. Durante a entrevista, ela teve que desmentir os boatos de que havia cometido suicídio, sido espancada pelo pai ou fugido de casa e ainda se comparou a Maria Madalena.

Alegou que tomou uísque e que acha que foi drogada. Uma hipótese bem possível, uma vez que ela passou mais de dez horas consecutiva escutando música sertaneja. Certa vez, eu fiquei uma noite internado depois de escutar música sertaneja por oito horas durante uma viagem, imagine ela que ainda misturou a música com álcool? Uma bomba.

Os dias passaram e a nudez da Fulana do Show Sertanejo não foi esquecida. Vieram suas fotos eróticas no camarim, ela disse que vai processar quem divulgou a foto e ela não para de gerar notícias. Dependendo de como ela planejar sua carreira, em breve saberemos que ela foi malhar de shortinho, que passeou no parque com decote chamativo e então poderemos dizer que sim, Mato Grosso tem sua subcelebridade.

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