Voltei a ser carnívoro

No começo de 2013, a empresa Friboi enfrentou uma série acusação. A imprensa divulgou que o frigorífico estaria vendendo carne de cavalo, ao invés de carne bovina, em alguns países da Europa. A denúncia provocou uma grave crise de imagem na empresa e também gerou uma das campanhas de marketing mais nonsense de toda a história e, recentemente, um comercial absolutamente ridículo.

Por mais que cavalos sejam apreciados em alguns países europeus e asiáticos, o seu consumo é um tabu alimentar. O animal é visto como um amigo do homem, animal de força, que ajudou o homem a explorar novos destinos e semear o campo. Essa amizade foi eternizada em filmes como “O Corcel Negro”. Tente imaginar que o hambúrguer que você comeu ontem a noite era feito com carne do Corcel Negro. A angústia invadirá sua alma e você nunca mais irá dormir em paz novamente.

Para tentar acalmar a crise, Toni Ramos foi contratado para ser a cara da empresa. Ele estrelou uma série de comerciais excêntricos, nos quais ele interpelava pessoas no supermercado, certificando-se que elas estão consumindo Friboi. A pergunta de Toni se viralizou na internet e, pelo lado positivo, gravou o nome da empresa no imaginário popular. Todo mundo sabe que existe carne da Friboi, tal qual existem bicicletas Caloi.

No entanto, fazer uma propaganda sobre um frigorífico não é algo comum. Neste mundo moderno, as pessoas querem ter uma relação meramente profissional com o seu alimento. Ninguém quer saber qual é a origem da vaca que estará frita em cima da sua mesa. Se a embalagem da maminha viesse com uma foto do animal assassinado para sua refeição, duvido que você comeria a Mimosa.

Além do mais, quem tem que me dizer se a carne é de boa procedência ou não, é a Vigilância Sanitária e demais órgãos fiscalizadores que permitem a sua venda. Não é preciso colocar o Toni Ramos vestido com roupas térmicas dizendo “Aqui nossos bois são mortos com muito carinho. A paulada na cabeça é certeira e eles não ficam gritando de dor e agonizando até desfalecerem. Pode confiar!”.

Como tudo pode piorar, os publicitários da Friboi tiveram a brilhante ideia de contratar Roberto Carlos para estrelar um novo comercial. O rei é um notório vegetariano e defensor da causa. Aliás, Roberto também é famoso por não usar roupas escuras, não falar palavrões e não fazer músicas boas. Muitas pessoas são famosas apenas por, não sei, lamber a própria bunda. Roberto é famoso por muitas.

A propaganda é uma peça única na história universal. Podemos ver um garçom entregando um talharim para Roberto e um bife com pouco acompanhamento para outra pessoa. O Rei contesta a entrega e diz que seu prato é o outro, dando início a um dialogo nem um pouco convincente, no qual o garçom pergunta se ele voltou a comer carne, RC confirma e se certifica de que a carne é Friboi. Ele diz a mágica frase “Friboi, com certeza” e ao fundo sobe o refrão de “O Portão”, aquela que diz “Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar”.

Podemos destacar vários aspectos no comercial. Roberto Carlos está com uma cara absurdamente artificial, não é possível que ninguém tenha um sorriso igual aquele. Aliás, não é possível que ninguém fala desse jeito. O roteiro é péssimo e não há nem sequer um bordão para se popularizar. Resta apenas o escárnio.

Pessoas ligadas aos bastidores da informação, dizem que o Rei recebeu a módica quantia de R$ 25 milhões para assumir seu gosto por um bifinho Friboi. No entanto, dizem que ele não chegou a tocar na carne e se bobear contracenou com um bife cenográfico (teorias sobre o garçom também ser cenográfico ainda não foram comprovadas) e permanece convictamente vegetariano. Bem, pelo valor recebido, Roberto teria a obrigação de comer o boi inteiro, cru, se fosse necessário. Ou será que o comercial mostrar um Roberto Carlos cenográfico.

Agora, o que podemos dizer de um homem que abre mão de suas convicções por dinheiro? Que faz propaganda para uma empresa que vende aquilo que ele abomina? Que engana a população? Que rei é esse? Essa farsa para a humanidade que a Globo tenta vender todo final de ano. No próximo passo, veremos Roberto ao som de “O Portão” vendendo camisas pretas. Ou defendendo a abolição das chapinhas, ou anunciando que voltou a usar cuecas (não que ela tenha deixado de usar, isso não importa muito para ele).

Fora que uma decisão pessoal e completamente desnecessária como, comer ou não carne, está sendo utilizada desta maneira. Oras, ninguém quer saber disso. Será que essa história vai estar na sua biografia.

Comentários