Roteiro Adaptado


Todo dia ele ia ao encontro dela. Queria escutar sua voz, dizendo sempre as mesmas coisas, da mesma forma. Estava apaixonado, não tinha como negar. Passava a noite sonhando com ela, com o que ela dizia, com os papeis que entregava, com o segundo a mais que ficava frente-a-frente com ela, apenas na tentativa de chamar a atenção.

Sonhava com o dia em que conseguiria se declarar, levaria ela para algum lugar especial e os dois seriam felizes para sempre, longe das pressões mundanas que os sufocavam diariamente. Sim, ele sabia que ela também deveria sofrer. Tinha certeza que ela sentia o mesmo, que de noite, quando não havia ninguém por perto, ela pensava nele.

Nos momentos mais eufóricos, se sentia especial e correspondido. De alguma forma, ela notava que ele estava ali. A cidade se silenciava e ele conseguia escutar sua voz. Nos momentos mais depressivos, pensava de que ela era assim com todos. Vagabunda, pensou. Logo se sentiu culpado e pediu desculpas pelas coisas que ela não ouviu.

Outro dia, outra vez ele estava diante dela. Ela o cumprimentou, ele retribuiu. Ela lhe entregou um papel e ele percebeu que iria embora mais uma vez, outra vez perderia a possibilidade de ser feliz. Tomou uma decisão. Desceu do seu carro e a abraçou, beijou e apertou. Declarou o seu amor e tudo o que sentia, o tempo em que tinha se dedicado a essa paixão, as coisas confusas que passavam por sua cabeça.

Escutou as buzinas do carro atrás dele. Pessoas gritando para que ele saísse da frente e logo um segurança se aproximou e pediu para que ele se retirasse. Olhou sobre os óculos e concordou. Não era dessa vez que seu amor seria correspondido. Seguiu adiante com a garganta apertada, escutando a voz dela dizendo “saída liberada”.

Ele estava apaixonado pela maquininha do estacionamento do supermercado.

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