Discografia Comentada: Benga Boys

Catalogar a discografia dos Benga Boys não é algo fácil, não é algo que você encontra na internet, nem mesmo na Deep Web. Tive que entrar em contato com os fãs mais fieis da banda, os poucos que ainda sobreviveram, paraplégicos e mutilados. Sofri ameaças de morte ao perguntar sobre os discos da fase negra da banda. Mas sobrevivi. Isso sim é um trabalho de fôlego.

Em 24 anos de carreira, os Benga Boys lançaram 18 discos. Pode não parecer muito, mas é, contanto que além de tocar e manter o hardcore vivo, os seus membros precisam ganhar a vida lavando pratos, carpindo terrenos e atuando em filmes pornôs bizarros. Fora isso, eles ficaram muito tempo parados, tocando projetos paralelos. Mas enfim, eis abaixo a discografia dos Benga Boys e os comentários sobre os discos.

Drinking in Devil’s Ass (1991): O primeiro CD da banda foi gravado em um dia na garagem do baixista Pedro Tolete. A garagem não era fechada o que faz com que o som pareça distante e que você tenha a sensação de que carros estão passando na sua rua o tempo todo. O som é violento, lancinante e você termina os 10 minutos de audição pronto para se tornar um Black Block. Espero que eles não ouçam isso.
Tracklist: 1) Fuckin’ With Dead Women; 2) Pussy Vomit; 3) Drinking in Devil’s Ass; 4) I Love Your Mother’s Ass; 5) Fuck the President!; 6) I Want to Kill My Family; 7) Rubber Penis. 8) Pain in the Ass; 9) Signs of Hate; 10) I ate my parrot today; 11) Right Now Motherfucker.

Naked Dick (1993): O sucesso de crítica do grupo os levou até palcos maiores e a perda dos fãs mais fundamentalistas. Em busca de mais públicos, eles assinaram com uma gravadora independente e entraram na onda do Pop Punk que explodiria nos Estados Unidos no ano seguinte. Este segundo disco é incrivelmente ruim, mas poderia tocar no Disk MTV, tranquilamente.
Tracklist: 1) In Love With a Cat; 2) Naked Dick; 3) Crazy Girl; 4) Sing Together; 5) Sunny Days; 6) Punk Crocodile; 7) Stormy Days; 8) C’mon with me; 9) I Love Myself; 10) Turn me on; 11) Cracking Up; 12) Be Mine

Balada do Coração Solitário (1995): Em busca de mais sucesso, eles assinam com um produtor renomado e passam a cantar em português. Se apresentaram no Domingão do Faustão e tudo mais. Este terceiro disco nos faz acreditar que o Jota Quest não é assim tão ruim. Zé Coveiro insiste em cantar num falsete sofrível e a guitarra de João Cavalo foi substituída por um teclado irritante. O arranjo de cordas lembra o pior de Phil Collins.
Tracklist: 1) Balada do Coração Solitário; 2) Me Sinto Como Romeu; 3) Só quero ver a chuva; 4) Romance Proibido; 5) Eu quero você; 6) Preciso te encontrar; 7) Sonhe Comigo; 8) Eu estarei lá; 9) Eu morreria por você; 10) Tão triste Assim; 11) Por onde andarei.

Ao vivo no teatro universitário (1996): Para capitalizar o sucesso, o grupo lança este disco ao vivo, que tem cara de ter sido gravado em estúdio e posteriormente incorporado algumas palmas. O repertório é o mesmo do terceiro disco e a música soa ainda mais brega.

Passado e Futuro (1999): Cláudio Defunto e Pedro Tolete abandonam a banda, que incorpora elementos eletrônicos às suas baladas, criando algo próximo ao som do KLB, com passagens longuíssimas de sintetizador. Lamentável.
Tracklist: 1) Saltando no rio; 2) Lua Cheia; 3) Passado e Futuro; 4) Fila de espera; 5) Anjos; 6) Olhos Escuros; 7) Nada a temer; 8) Festa Imediata

(In)Completo (1999): João Cavalo morreu em um acidente de carro e Zé Coveiro resolveu sair da banda, que, pasmem, continuou mesmo assim e gravou um disco ao melhor estilo Boy Band. O som soa como um protótipo de Calypso. Pavoroso.
Tracklist: 1) Te Quero Garota; 2) Todo mundo dançando; 3) Me diga porquê; 4) Incompleto; 5) Eu nunca vou te deixar; 6) Garota, eu quero você; 7) Não brinque comigo; 8) Garota quero você assim; 9) Não me deixe sozinho; 10) Você sabe que eu te quero; 11) More than words.

No Ritmo da Balada (2000): Sem nenhum pudor, eles gravaram esse disco com covers e versões em português de clássicos da Dance Music dos anos 90. De vomitar.
Tracklist: 1) O Ritmo da Noite; 2) Você consegue sentir?; 3) Eu ainda acredito em seus olhos; 4) Barbie Girl; 5) Boom Boom!; 6) Vamos a La playa; 7) Unbreak my heart; 8) Shalalala; 9) Não pare a música; 10) Dancing with an Angel; 11) Sonhos Doces (são feitos disso).

Yo! (2002): Se nada pudesse piorar, eles lançam esse disco de Pop com parceria de rappers. Ninguém sabe quem são os membros nesse momento, nem as músicas. Por uma questão de segurança, a ONU devia isolar todas as cópias desse disco.

Oxe Mainha! (2003): Segundo disco consecutivo com exclamações no título e a prova de que os Benga Boys morreram. Aqui, a nova formação gravou um disco de axé, mas o problema é que o auge da Axé Music foi uns cinco anos antes.
Tracklist: 1) Oxe Mainha!; 2) Dança da Borboletinha; 3) Caindo na Mandioca; 4) Delícia de sambinha; 5) Remexe moreninha; 6) Que loucura morena!; 7) Papai te ensina a dançar; 8) Vem mamar; 9) Rebola Danadinha; 10) Passando o rodo; 11) Dança da Cabrita.

Remexe Popozuda (2004): Eles tentam se acertar publicando um disco de funk. As músicas são exatamente as mesmas do disco anterior, substituindo expressões do axé pelas do funk.

Batidão dos Benga Boys (2004): Segundo disco de funk no mesmo ano, dessa vez coverizando os clássicos do Bonde do Tigrão e da primeira invasão do funk. Felizmente, por respeito ao mito, a banda se desfez depois disso. Não havia nada pior para fazer. Ou não. Por sorte eles acabaram antes de chegar o sertanejo universitário.

I Have Sex With Hot Moms (2008): O glorioso retorno. Os Benga Boys voltam com sua formação original, incluindo a ossada de João Cavalo e o novo guitarrista Rodrigo Furúnculo. A banda exorciza o passado nebuloso num disco violento e selvagem. O material foi todo gravado no banheiro da casa do vocalista, oferecendo um eco selvagem e ruídos intensos de descarga. Fenomenal.
Tracklist: 1) My Dick Itches; 2) Your Ass is mine; 3) Fuck Politicians; 4) Santa Claus Son of Bitch; 5) I Have Sex With Hot Moms; 6) Shit on the corner; 7) Put My Cock On Your Ears; 8) Greek Kiss is Cool; 9) T.O.B.A.; 10) Lick My Balls; 11) Live With Pigs; 12) Toilet Song.

Manure (2009): A volta as estradas e a velha forma acarretou nesse disco, gravado dentro da Kombi da banda, conhecida como Benga Móvel. Cada música foi gravada em uma noite em uma cidade diferente, captando as diferentes influências das coxinhas gordurosas que eles comem na beira da estrada. Raramente a banda toca as canções desse disco ao vivo, porque eles estavam tão chapados durante a gravação que são incapazes de se lembrar de qualquer coisa.
Tracklist: 1) Joe Strummer; 2) Fuck You Fuck Me; 3) Relax Bitch; 4) Motherfucker gonna hell; 5) Salvation is hell; 6) Pornographic Priest; 7) Hell Child; 8) Zombie Husband; 9) Cloud of Shit; 10) God is my ass; 11) Pissing Fire; 12) Rape Ramon; 13) Hardcore Roots.

Live in Jangada (2009): Registro do show da banda no estacionamento de uma pastelaria em Jangada. Apresentação vibrante com detalhe para os gritos da plateia no momento em que uma carreta atropela seis fãs.

Dead Kennedy’s Tribute (2010): O grupo resolveu se reunir para gravar o disco que influenciou a vida de
todos: Fresh Fruit For Rotting Vegetables, dos Dead Kennedys. As 15 músicas do álbum são tocadas de maneira ainda mais rápida e violenta. Cogitou-se usar esse disco para torturar prisioneiros em Guantánamo, mas nem mesmo os guardas conseguiam ouvir.

Live in Paranatinga (2011): A banda abafa o telão do Crazy Frog e quase provoca uma guerra civil na cidade. É isso que esse disco é. O som do apocalipse.

The Ugliest Band in Town (2011): Um susto: o disco começa com aquela musica chatinha de “meu amor, essa é a última oração”. Quinze segundos depois tudo muda e tem início o disco mais violento da história dos Benga Boys. Evite ouvir em lugares públicos, ele costuma a matar os passarinhos que sobrevoam as ondas sonoras.
Tracklist: 1) Bastard Dog; 2) I’m a Animal; 3) Killer; 4) Even If I was Dead I Will Still Be Playing Hardcore; 5) Fat John Sold Out; 6) Fuck the Dancefloor; 7) You Asshole; 8) Two Girls One Cup; 9) Tarantino is a Little Doll; 10) The Ugliest Band in Town; 11) I’m a Terrorist; 12) Do You Wanna Suck My Dick?; 13) Pray for Satan; 14) Osama was my neighbor.


Street Clash (2013): Aproveitando o momento de revolta popular no país, os Benga Boys voltaram de uma temporada de lavagem de pratos para gravar esse torpedo sonoro. O grupo soa político como nunca soou e praticamente conclama o povo a tomar o poder e estabelecer uma ditadura Hardcore.
Tracklist: 1) Obama Get Out My Facebook; 2) Kill The Presidenta; 3) Destroymania; 4) Street Clash; 5) Burn Out Brazil; 6) Fifa Fuck Out; 7) Blood in your eyes.

No momento o grupo está fazendo shows no interior da Bolívia, sem previsão para um novo registro. Mas, não faz diferença. Quando eles querem gravar um disco, eles fazem isso em meia hora.

(PS: Não existem imagens disponíveis das capas dos discos. Digitamos o nome do disco no Google e salvamos a primeira imagem existente).

Comentários