A farsa da internet 3G


Você está andando por uma estrada no meio do nada e subitamente vê uma arara sobrevoando o caminho. Maravilhado com a cena que passa diante dos seus olhos, você para o seu carro no acostamento e vai até o meio da estrada, de onde tira fotos maravilhosas das araras com o seu smartphone e consegue postá-las no Facebook, acompanhadas de uma mensagem motivacional e uma hashtag frustrante. Você está em um comercial de internet 3G.

Você está novamente em uma estrada no meio do nada. O caminho é esburacado e a sua roda quebra. Você para o carro no acostamento e quase é atropelado por uma carreta desgovernada. Tenta ligar para o seu seguro, mas o celular não consegue captar o mínimo vestígio de sinal. Você tem que esperar uma alma caridosa lhe dar carona e correr o risco de ser molestado sexualmente. Você está na vida real.

Nos comerciais, a Internet 3G é a coisa mais fantástica do Planeta Terra. Ela promove a liberdade de estar sempre conectado ao mundo, preso em seu smartphone, checando instantaneamente todas as atualizações inúteis das redes sociais, sentindo a dopamina correr por suas veias a cada curtida. Liberdade, conectado, infinito. Palavras que resumem o convívio em sociedade atual e que são vendidas junto com o 3G.

Nos comerciais, não importa se você é rico ou se você é pobre. Se você é o Ronaldo em apuros em um motel na Barra da Tijuca, uma japonesa famosa grávida ou um cara todo pintado de azul que batuca instrumentos imaginários. Você pode estar no meio de um pântano, numa casinha no campo, atravessando o deserto do Saara ou escalando um Iceberg que a sua cobertura ilimitada irá lhe permitir curtir uma atualização do Jô Soares Fake no Face.

Mas a vida real não é assim. Na vida real você sofre para abrir o Google no meio da Avenida Paulista e resta apenas a frustração quando você tenta mandar uma simples mensagem em uma cidade de interior. Na vida real você morre atolado no meio do pântano, desidratado no deserto e à deriva no iceberg. Na bucólica casinha do campo só lhe restará a companhia de cinco aranhas.

Não importa seu status ou a cor que você pinta o seu rosto antes de um dia de trabalho. As fotos dos aplicativos demorarão para carregar e você receberá inúmeros avisos de falta de conexão e passará pelo lugar da sua consulta no médico antes do aplicativo do mapa achar o endereço.

Para piorar, as propagandas ainda tem a coragem de falar sobre os planos mais baratos, em que você paga 50 centavos por dia e tem acesso ilimitado as benesses da internet banda larga no seu smartphone. Tal propaganda enganosa deveria ser punida com a forca. Os 50 centavos se esgotam antes de você clicar no navegador. Muito longe de qualquer infinitude.

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