Selfies & Braggies

Self-fracasso
O dicionário de Oxford, que acredito que seja um livro ou uma entidade importante, escolheu “selfie” como a palavra do ano de 2013. Algo interessante porque eu e metade da humanidade¹ só soubemos de sua existência e conhecemos o seu significado, tirar uma foto de si próprio, a partir do momento em que a decisão do dicionário foi noticiada pelo mundo.

A decisão não deixa de ser algo interessante porque proporciona uma reflexão. Palavras são criadas. Observe todas as palavras utilizadas até o momento neste texto e pense que todas elas têm uma origem. Não sabemos quando elas entraram em nosso vocabulário. Elas pré-existem nossa existência e vagam constantes pelo espaço indefinido. Mas, todas elas um dia foram criadas, originadas do latim, do tupi ou de alguma onomatopeia popular em algum período.

Como vocês podem imaginar, este post não será sobre a origem das palavras, até porque eu não sou filólogo e não teria competência para falar sobre isso. Vamos falar mesmo é de internet.

Faz muito pouco tempo que “selfie” foi agraciada com o título de palavra do ano. O dicionário tomou essa decisão no final de novembro, provavelmente no momento em que eles fechavam a sua retrospectiva interna. Mal tomamos ciência de sua existência e a imprensa mal começou a utilizá-la de maneira descontraída, descolada e impune e já surge na internet uma corrente que defende que selfie é coisa do passado, só que a onda agora é namorar pelado. Digo, a nova moda é o “braggie”.

(Curioso que na divisão entre apocalípticos e integrados na internet sempre existe uma corrente que diz que alguma coisa já é ultrapassada, que já há uma novidade muito melhor. Era 2007 e a população mal tinham se acostumado a possibilidade de postar mais de 12 fotos no Orkut e algumas pessoas já decretavam a morte do site do Buiú. Era 2010 e eu li um artigo em que alguém questionava se era sério que as pessoas ainda utilizavam o MSN e quando três anos depois o MSN resolveu se integrar ao Skype o próprio Skype já estava superado. Agora, muitas pessoas já decretam a morte do Facebook. O motivo, acredito, é que nossos pais chegaram até lá. Mas, o mundo é cruel, vivemos em um ciclo e um dia nós é que seremos os pais estragando as redes sociais dos nossos filhos. No fundo, a internet vive em um constante fluxo de descoberta e de pessoas que se sentem privilegiadas por fazer parte de um grupo pequeno. O próprio “selfie” deve ter sido vítima deste comportamento, uma vez que agora ele é conhecido, deixou de ser legal. A culpa, provavelmente, é dos analistas de mídias sociais. Essa profissão meio idiota, mas que tem o meu respeito, porque acredito que todo fim de ano eles sofrem muito para explicar para os tios e avós o que é o trabalho deles e tem que aturar aqueles olhares piedosos de ‘coitado, não deu em nada pra vida’).

E que porra final serie esse “braggie”? Simples, consiste no fato de fazer as pessoas sentirem inveja de você na internet. Os “braggies”² mais comuns são: tirar uma foto fazendo pose em algum lugar paradisíaco, mostrar que você está num lugar super legal, muito bem vestido e comendo uma comida maravilhosa. Afinal, quem não queria estar assim?
Guilerme (in memoriam) bragueando a rapaziada

A princípio, o “braggie” me parece algo muito idiota. Por uma simples razão: a internet inteira é um “braggie”.

Sim, veja o instagram que é uma rede social baseada em tirar fotos de pratos de comida e de vocês em lugares paradisíacos fazendo coisas legais. Ele é uma rede “braggie”, desde antes de a palavra existir. Veja a sua timeline no Facebook e perceba que seus amigos também estão em lugares paradisíacos, bebendo cervejas legais, curtindo a vida numa balada muito legal enquanto você está aí no seu apartamento mofado pensando se seria legal bater punheta com a mão trocada.

Veja que o Facebook inteiro é composto por pessoas tentando dizer que estão fazendo coisas legais o tempo inteiro. Veja que o “braggie” é uma palavra inútil, porque o que ele tenta definir já é conhecido como “internet” há pelo menos 20 anos.

¹ No caso, a outra metade da humanidade não leu essa notícia porque tinha alguma coisa mais importante para fazer.
² Me imagino falando, “fazendo aspas” com a mão.

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