O Gari da Geração Y


A geração Y, para quem não sabe, é composta por aqueles cidadãos que nasceram durante a década de 80. São pessoas que cresceram num mundo de revolução tecnológica, que entraram no colégio fazendo provas mimeografadas e se formaram na faculdade salvando a monografia em um pen drive. São eles que estão entrando no mercado de trabalho e entre eles estão incluídos os três criadores do CH3.

Dizem os sociólogos socialistas que nós somos filhos de uma geração que nasceu e cresceu no confuso mundo pós-guerra, esperando o apocalipse nuclear e com o conceito de trabalhar duro para garantir o futuro dos descendentes. Assim sendo, a Geração Y cresceu cheia de mordomias, sendo acostumada a pensar mais na própria satisfação do que no futuro das próximas gerações. Só que o mundo não quer saber de satisfação.

Somos uma geração de deprimidos, insatisfeitos com a vida e com toda a lógica do mercado atual. Daí é que surgem aqueles vídeos cheios de filtros do Instagram com pessoas fazendo poses em lugares amplos, dando cambalhotas no crepúsculo e sorrindo com o vento no rosto, dizendo que nós temos que ir em busca da felicidade porque todos nós estamos apenas no prólogo de nossas vidas.

Claro que essa geração também tem o seu próprio modelo de sucesso capitalista. Nada mais de engravatados workaholic dando hora-extra em grandes empresas. O novo empresário de sucesso é aquele cara jovial que tem muitas ideias, investe em tecnologia, mas pode tirar seis dias de folga para meditar num templo taoista. Sim, porque o novo empreendedor anda de bicicleta, é adepto de alguma dieta exótica e curte qualquer coisa inserida no marcador “oriental”.

Matérias adoram replicar a história do Fulano de Tal que investiu na criação de um aplicativo e tem uma banda hipster. Trabalha em casa, aliás, numa espécie de república estudantil com móveis despojados e com todos os moradores superestimando The Smiths. Eles investem em Startups, empresas moderninhas de tecnologia que ganham um status messiânico.

Tem o cara que passa o dia inteiro jogando golfe e no fim do dia liga um aplicativo e dá carona para pessoas na região de Las Vegas. Assim ele ganha a vida, para continuar jogando golfe que é o que ele gosta. E você pensa que legal seria passar o dia inteiro vendo putaria na internet e depois passar duas horas cobrando para dar caronas, ou em outro trabalho bobo, para passar as outras 22 horas vendo putaria na internet que é o que você quer da sua vida. E assim surgem os especialistas que dizem que no futuro todos irão trabalhar desta forma, reorganizando a lógica do mercado de trabalho, descentralizando as funções antes dominadas por grandes empresas.

Tudo muito bonito, tudo muito legal, mas eu vejo um problema nisso tudo. Todos esses negócios envolvem atividades até certo ponto prazerosas e que podem fazer bem para você e para os beneficiados com o seu trabalho. Mas e o trabalho sujo? Muito legal você dar carona para os outros ou fomentar os artistas de rua de Bangkok. Mas quem é que vai limpar a rua? Quem é o gari da geração Y?

Sim, nas cidades em que moramos nós temos milhares de pessoas invisíveis, mal remuneradas e vitais para o funcionamento da engrenagem. Pessoas que limpam a rua, desentopem fossas, cozinham em restaurantes, limpam os pratos, erguem, rebocam e pintam o muro. Em um mundo em que as pessoas trabalham duas horas por dia e passam o resto do tempo curtindo a vida, presumo que infelizmente ninguém irá querer limpar fossas alheias.

Ou haverá um aplicativo limpa fossa no Facebook que você irá ligar e uma pessoa disposta a limpar a sua fossa entrará em contato? Ninguém irá se oferecer para limpar as ruas por duas horas para passar o resto do dia jogando Call of Duty. Ou rebocando paredes uma vez por semana para montar uma ONG que ensina reiki para crianças carentes.
E os garis, Casoy?

Sem contar a questão da demanda para os serviços de tantos aplicativos. Como será um mundo cheio de pessoas ganhando a vida dando caronas e sobrecarregando o Android alheio? Pela lógica do mercado, em pouco tempo os serviços de tecnologia estarão baratos e os lavadores de prato e cozinheiros ganharão fortunas nos restaurante, aumentando os custos com alimentação, gerando desemprego, fome e caos urbano. E o iPhone não vai te salvar. O mundo não quer saber de satisfação pessoal.

Comentários

Gressana disse…
Isso me lembra um comentário de uma certa colega no primeiro semestre.
"Tem que ter pobre, porra!"