Guia CH3: viagens pelo interior

Enquanto você está lendo este post, eu estou na estrada, viajando pelo infinito insólito de Mato Grosso. Coisas do meu trabalho nos últimos dois anos. Pelo menos é uma oportunidade de colecionar histórias e conhecimentos. Irei compartilhar alguns neste guia, que irá te ajudar a sobreviver neste meio cruel – o interior de qualquer estado. Para evitar processos e constrangimento, irei omitir o nome de algumas cidades.

COMIDA
Nunca coma maionese. Repita isso como um mantra. Evite também coisas cruas e cremes que você não sabe se foram bem conservados. Isso irá te ajudar a não precisar vagar pela madrugada atrás de um hospital que muitas vezes pode nem existir. Dependendo do lugar, evite comer muito, principalmente se você for pegar uma estrada de chão. Os buracos podem revirar seu estomago.
Parece que há uma cabeça alienígena ali no meio, não?

Viajando pelo interior você também acaba engordando. Isso acontece porque em toda a parada o seu inconsciente acredita que aquele será seu último contato com a civilização e que talvez você nunca mais irá conseguir comer alguma coisa normal. Resista a esta tentação. Ao contrário da maioria dos bancos, a Coca Cola já chegou a todos os 5.570 municípios brasileiros.

Ah, sempre confira a data de validades dos produtos.

CIDADES
Nunca, em hipótese nenhuma, faça alguma piada sobre a situação de uma determinada cidade. Ela pode ser pobre, feia e você pode até sentir pena dos seus moradores, mas converse com eles e concorde que a situação está melhorando. Quanto menor é o conglomerado, maior é o bairrismo de seus moradores.

Atente-se aos hábitos locais. Em uma cidade cujo nome lembra a palavra “caravana”, as rotatórias são chamadas de queijinhos. Esta cidade também deveria ser mundialmente conhecida por conta das larguras de suas avenidas. Tão largas que os moradores devem dizer que “fulano mora longe, lááá do outro lado da rua”. Já em “Elevada Selva”, os retornos são em mão inglesa e você pode se envolver em acidentes de trânsito se não prestar atenção nisso.

HOTÉIS
Os mais chiques costu-
mam a ter um rodo de
brinde
Sempre leve um sabonete quando for viajar pelo interior. Sim, aqueles sabonetes de hotel são muito ruins, mas nem eles existem na maior parte dos hotéis. E, dependendo do horário que você chegar à cidade, não irá conseguir comprar um.

Faça suas necessidades fisiológicas antes de tomar banho. O boxe de banho é um item raro, tanto que até hoje me lembro de apenas dois hotéis em que eles existiam. Assim sendo, depois que você toma banho a privada fica molhada e sentar no vaso é muito mais desconfortável. Em “Elevado da Adequada Paisagem”, a privada ficava exatamente em frente ao chuveiro. Neste mesmo hotel, quase provoquei um curto circuito na hora em que liguei o chuveiro. Se você estiver dividindo o quarto com alguém, corra.

Sempre leve repelente. Em alguns lugares, irá ajudar a não deixar os insetos caminharem sobre você durante a noite.

Na hora de dormir, esqueça o ambiente ao seu redor e se concentre apenas na sua cama, que, em todos os casos, também tem boa chance de ser bem ruim. Em “Elevado Adequada Paisagem”, dormi em um quarto que tinha besouros rolando pelo chão. Em “Caravana”, dormi em um hotel razoável, mas cujas paredes estavam cheias de barro, dando a impressão de que alguém deitou na cama assim que chegou depois de brigar na lama. Já em “Não-antiga Clementina”, havia uma marca branca duvidosa na parede. Um colega meu perguntou “que porra é essa” e eu disse “isso mesmo”.

Sempre leve dinheiro. Como já foi dito, é uma mentira que existam caixas de banco em todos os 5.570 municípios do Brasil.

BANHEIROS
Caso você não tenha conseguido visualizar
Particularmente, acho que o sistema anti-
derrapante na lateral é um mimo
Mato Grosso é um estado continental e você pode rodar mais de mil quilômetros e ainda estar dentro dele. Viajando de carro você sempre terá que parar no meio do caminho para fazer algumas necessidades. Não deixe o seu preconceito de lado. Se você olhar um estabelecimento e ele parecer meio mal cuidado por fora, tenha certeza que o banheiro será pior ainda.

Em todo esse tempo, já passei por muitos banheiros ofensivos, mas apenas dois embrulharam o meu estomago. O primeiro ficava em “Caravana”, onde eu concluí que um cidadão havia morrido durante uma diarreia, porque ninguém que tenha cagado a ponto de sujar a borda da privada iria conseguir sobreviver. A outra vez foi em “Ponis”, onde o banheiro era daqueles com privada direto no chão e o cidadão havia errado a mira. Seus dejetos já estavam ali há pelo menos 40 dias e o banheiro cheirava a decomposição.

SEBRAE
Outro problema é que muitas das pequenas empresas do interior se constituem em negócios familiares e não exatamente por pessoas que se prepararam para gerir um negócio. Portanto, prefira pagar a diária do hotel na hora da entrada, para evitar que no dia seguinte alguém não reconheça o acordo feito com a pessoa da noite anterior. Da mesma forma, muitos lugares podem aceitar cheque e não dinheiro, o garçom pode não anotar os pedidos e enfim. Não pense que vai adiantar reclamar no Procom.

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