Retrospectiva 2013

Quando as primeiras retrospectivas do ano começam a pulular em nosso campo visual, acabamos surpreendidos: aconteceu muita coisa em 2013. Mas, por incrível que pareça, vivemos com a sensação de que nada de importante aconteceu. O excesso de informação faz com que os assuntos sejam constantemente substituídos por novos acontecimentos e a história começa do zero diariamente nas redes sociais. Uma espécie de Dia da Marmota eterno.

Mesmo neste mundo em que nós nunca chegamos até o final dos textos e no qual os redatores poderiam colocar receitas de miojo nos últimos parágrafos das notícias (isso aconteceu no Enem de 2012 e veio a tona em 2013), eu seria injusto em dizer que nada de importante aconteceu nos últimos 365 dias. O Ano da Graça de Dois Mil e Treze será eternamente lembrado por um fato marcante: o ano em que conhecemos o Rei do Camarote.

Daqui a um século ainda nos lembraremos de Alexander Almeida, 39 anos, despachante obscuro, autor de metáforas inusitadas e que nesta noite vai pra balada. Um homem que se veste com Burberry, Armani, Prada e Gucci, que tem um carro potente, uma Ferrari que é um mito. Um homem que prefere vodca, mas sabe que a champanhe é uma questão de status. Ele explicou que no camarote você não é apenas mais um, que você precisa ter mulheres bonitas e que os famosos agregam valor ao seu carro, ao seu camarote, a tudo. Alexander Almeida é o homem que nos mostrou que é possível dançar com uma máquina de cartão de crédito e que quantificou o infinito em R$ 70 mil. O homem do ano.

Sabe uma coisa, mas aí eu acho que é pesado. Eu já transei com mulher na balada. No banheiro” - Alexander Almeida.

Em um grau menor, 2013 também será o ano das manifestações populares. O povo foi às ruas e ninguém entendeu o porquê e isso é interessante, mas também é chato. Foi, sem dúvida, o evento que mais provocou discussões inúteis na internet.

Ao que tudo parece, a coisa toda começou com os protestos do Movimento Passe Livre contra o aumento de vinte centavos na tarifa de ônibus em São Paulo. A imprensa clamava pela manutenção da ordem social contra estes vândalos e a polícia baixou o sarrafo em todo mundo. A internet e os celulares amplificaram esses abusos. Os políticos tentaram desqualificar as manifestações e no dia 13 de junho o pau quebrou de vez.

E então, já não era mais por vinte centavos. No dia 17 de junho uma quantidade incrível de pessoas foi à rua protestar contra o que lhe desse na cabeça e cada um se refere a essas manifestações do jeito que quiser. Foi contra a Copa? Contra a corrupção? Não sabemos. Essa manifestação pós-moderna de identidades fragmentadas chegou a várias cidades brasileiras e de repente se transformou numa competição de cartazes perspicazes e logo a discussão foi para a presença de poucos vândalos no meio da manifestação pacífica e ordeira e surgiram os black blocks e surgiu o Mídia Ninja e a discussão entre velha e nova imprensa e os partidos políticos quiseram se apropriar do movimento e foram expulsos da rua e alegaram que eles já estavam na rua antes e, puta merda, foi chato pra caramba. Quando fomos ver, já estávamos em casa aceitando os mesmos abusos de sempre. O Instagram é o mal do mundo.

Quem também movimentou as ruas brasileiras neste ano foi o Justin Bieber. O ex-cantor-adolescente, tocou o puteiro no Rio de Janeiro, saiu de uma casa de diversão noturnas enrolado num lençol, pixou muros e foi filmado dormindo por uma garota de programa. Ao lado de Miley Cirus, Bieber representa uma nova geração de deliquentes juvenis.

Em 2013 todos nós ficamos sabendo que Obama lê nossos e-mails e, maldito, não entra no CH3 mesmo assim. Culpa do Edward Snowden. Em 2013 o Iogurte Grego virou uma febre nos supermercados. Eike Batista teve um ano terrível. Quem teve um ano maravilhoso foi o caubói da Selaria Texana.

Parece que foi há muito tempo, mas foi em 2013 que o Papa Bento 16 renunciou. Dois meses após entrar no Twitter, o pontífice perdeu a fé na humanidade e resolveu deixar essa vida de lado. Após uma comoção nacional com a possibilidade de um papa brasileiro, o Vaticano escolheu um argentino e ele até já veio ao Brasil.

Tivemos as tragédias de sempre como as chuvas da semana passada e o incêndio da boate Kiss. Neste parágrafo não cabe nenhuma piada.

Mortes: 2013 vitimou metade da defesa brasileira na Copa de 58. Personalidades mundiais como Nelson Mandela, Hugo Chavez e Margaret Thatcher também. Assim como Lou Reed e Ray Manzarek e o Chorão, que morreu e de repente virou um grande artista.

No mundo da música, aliás, o grande sucesso do ano foi “O Show das Poderosas”, que conseguiu desbancar o sertanejo do topo das paradas. A música é uma espécie de colagens de frases que adolescentes que usam boné colocam no Facebook. Se bobear, tem até uma da Clarice Lispector no meio. A música é uma merda, mas dá pra dizer que é uma evolução diante dos sertanejos onomatopeicos dos últimos anos. No cinema, o grande filme foi Sharknado. No futebol, todos os times tiveram uma pequena humilhação no ano, então não há ninguém imune às piadas.

Mas no meio deste turbilhão de acontecimentos, não há como negar. O Rei Do Camarote monopolizou as atenções. Acredito que ele eclipsou o Papa, ele encerrou as manifestações nas ruas. O CH3 deseja que em 2014 vocês agreguem.

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