Correspondente de Guerra

O correspondente de guerra está no topo da cadeia alimentar jornalística. Ele está na frente dos correspondentes internacionais, bem a frente dos setoristas do Palácio do Planalto e milhas adiante do novato que faz ronda em delegacias para levar ao grande público os assassinatos da última madrugada.

Isso diz mais sobre a profissão do jornalista do que sobre a guerra. Uma profissão tão desgraçada que o maior prestígio da categoria é prestigiar uma carnificina. Sim, há a desculpa de que você vai testemunhar a história, mas de quebra vai testemunhar mutilações, explosões e vai ter que desviar de balas, morteiros, bombas, granadas e minas terrestres. Talvez, ajude a pegar mulher num futuro distante e a escrever um livro criticado nas faculdades de comunicação.

Infelizmente, não temos mais tantas guerras no mundo atual, exceção feita aqueles conflitos endêmicos no Oriente Médio e na África e um ou outro levante popular em países ditatoriais. Nada de conflitos mundiais, embates de potências numa região inóspita e uso indiscriminado de agente laranja.

Por outro lado, temos um número cada vez maior de guerras urbanas para ser cobertas. Não falo aqui do embate entre facções criminosas no asfalto fervilhante, das intervenções das forças armadas em zonas de conflito permanente. O correspondente de guerra moderno é aquele que vai até os shoppings centers e demais centros comerciais para ver a movimentação de última hora.
Nossa Praça Tahrir

Conseguir um bom depoimento no meio daquele frenesi consumista é tão difícil quanto fazer uma passagem na faixa de gaza com os mísseis estourando ao fundo. O clima é de guerra entre as lojas pelos últimos clientes e dos clientes pelos últimos produtos. Há muito barulho, pessoas correndo e muitas armadilhas. Tal qual no Vietnã, não deve haver envolvimento emocional, mas como resistir àquelas últimas promoções?

A entrada ao vivo é complicada e muitas vezes não dá certo, por conta das pessoas esbarrando. Existe um lado perdedor e o sofrimento. De um lado os que perderam suas casas e familiares, do outro os que não conseguiram comprar um tablet para o filho e o filho queria muito isso.

O problema, é que provavelmente o jornalista não consegue pegar ninguém por que esteve na 25 de março no dia 24 de dezembro.

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