Lulu da Pomerânia

Eu estava na 6ª série. Aquele período terrível na vida de qualquer menino. A adolescência começa a mostrar seu lado maligno, deixando todo mundo com o rosto desproporcional, com a pele oleosa, hormônios acelerados, excitados por qualquer pedaço de canela à mostra. Só que você não pega ninguém. Aliás, nenhum dos seus colegas pega, porque as meninas – sempre mais desenvolvidas, ficam com os caras da 8ª série¹. Só que você não sabe disso e acha que é o último virgem da sala.

Pois bem, naquela manhã a professora havia reservado a sua aula para a exibição de um filme, provavelmente bem ruim. A exibição de filmes era sempre uma boa oportunidade para tirar aquele cochilo, mas eu reparei que as meninas da sala estavam repassando um papel. Ele chegava na mão de uma, que rabiscava alguma coisa, passava para outra, retornava para a primeira, chegava na mão de uma terceira. No meio delas estava o viadinho da sala², que parecia avalizar o conteúdo todo.

Em determinado momento, o papel chegou até a menina mais bonita da sala³, que estava sentada na minha frente. Reparei que as meninas estavam ardilosamente elaborando uma lista dos meninos mais bonitos da sala. Procurei meu nome e me encontrei na 14ª posição entre os 16 alunos da sala. Vi o exato momento em que ela me trocou de posição, me colocando no penúltimo lugar, na frente apenas de um cara que pesava 100 quilos e ficava gritando “é o bug do milênio” nos corredores do colégio, dando origem a lista final que provavelmente foi ratificada em uma convenção secreta.

Este exemplo de devastação da autoestima púbere serve apenas para mostrar que mulheres avaliam homens desde que o mundo é mundo. Acredito que o inverso também seja verdade, por mais que eu nunca tenha participado da elaboração de nenhuma lista escrita, mas deve ser porque eu era um fracassado. Mas, é bem possível que Gutenberg tenha utilizado sua prensa móvel para listar as mulheres mais bonitas de Mainz.

Pois, a Grande Polêmica dessa semana é o aplicativo “lulu”. Ele copia o perfil dos usuários do facebook e permite que as mulheres avaliem anonimamente o desempenho sexual dos homens, deixando essa nota exposta para as outras mulheres. Ainda permite que as mulheres definam o que é o melhor e o que é o pior com comentários jocosos. Repete um comportamento do mundo real, só que hiperdimensionado pela internet, como quase tudo hoje em dia. Pintos pequenos estão sendo revelados ao mundo.

Como sempre acontece no Facebook, o aplicativo causou alvoroço e permitiu a existência de dois grupos bem distintos. De um lado as pessoas que louvam o aplicativo e o seu viés feminista, do outro aqueles que se sentem ofendidos com a objetificação masculina e perguntam como seria se um programa desse fosse feito para avaliar as mulheres, sendo prontamente respondidos por quem considera essa comparação um absurdo porque as mulheres já sofrem com essa objetificação nas ruas e logo aparece o Roberto Carlos defendendo o direito a privacidade e os grupos de direitos humanos e enfim. Uma das desvantagens do Facebook em relação a guerra civil, é que pelo menos na guerra civil o lado perdedor é morto. No facebook não, todos sobrevivem e todos continuarão participando de discussões ridículas na semana que vem.

Na verdade, o fato mais interessante do lulu, é que ele é um aplicativo sobre sexo para pessoas que não estão fazendo sexo, estão só avaliando a possibilidade e curtindo a fama. Vão se foder.

¹No entanto, quando você na 8ª série, as meninas ficam com os caras do terceiro ano. Quando você chega no terceiro ano, elas ficam com os caras que estão na faculdade e quando você finalmente chega na faculdade, elas estão com os professores. Eis o ciclo da vida
²Note que o termo “viadinho” não se refere a condição sexual do referido. O “viadinho da sala” era aquele cara que puxava o saco da professora e lembrava que ela tinha passado tarefa.
³invariavelmente, você encontra a menina mais bonita da sala anos depois e descobre que o tempo foi cruel com ela.

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