Polícia Indie

Se há alguma coisa boa que a internet permite é o patrulhamento ideológico que nós podemos exercer sobre cada um. Se antes você precisava se organizar em grupos que utilizavam capuzes e seguravam tochas para poder linchar pessoas e esses linchamentos tinham que ocorrer em praça pública, hoje você precisa apenas de um computador com acesso a internet.

Temos os Grammar Nazis, que julgam o português alheio, mas eu até os entendo porque na internet nós temos os mais diversos crimes cometidos contra a língua portuguesa. E um tipo muito comum e cada vez mais popular é a Polícia Indie. Esses policiais alternativos são os responsáveis por definir o que é bom e o que não é bom no mundo da música alternativa. Pelas liberações e criminalizações dos mais diversos gêneros e bandas.

Começo com um exemplo clássico: Los Hermanos. Começaram com o sucesso de Anna Júlia, lançaram um dos discos mais aclamados da história do rock alternativo e hoje são expressamente proibidos no território nacional. Aqueles que gostam da música do grupo dos barbudos tem que fazer isso na clandestinidade. Trancados no banheiro com a toalha na fresta pra não escapar nenhum barulho. Nas ruas, apenas com fones de ouvido e MP3 renomeados.

No momento em que alguém se revela fã de Los Hermanos, passa a ser visto como um barbudo de chinelo e camisa xadrez, estudante subversivo de ciências sociais que participa de fóruns na internet discutindo o significado de versos como “fiz aquele chá de habu pra te curar da tosse e do chulé”. Será marginalizado no convívio social e perderá o emprego, sem dúvida.

Como é que a Polícia Indie atua? Não sei. Eles são uma organização secreta. Um dia, você entra em algum site de música e os comentários estão massacrando uma banda ou enaltecendo outras. Acredito que deva existir alguma espécie de hierarquia, com líderes camuflados nos mais diferentes setores do establishment da internet. Acredito que eles tenham fakes nas redes sociais, invadam perfis e pratiquem lavagem cerebral.

A Polícia Indie foi a responsável por definir que no começo do século o bom era o rock sujo. Depois, que legal era escutar o revival dos anos 80. Definiram a supremacia do rock eletrônico em anos recentes e agora caminham para louvar a influência de ritmos tradicionais no som atual. Eles criaram o Vampire Weekend, o The XX, Arcade Fire e TV on The Radio.
Dado Dolabella, agente da Polícia Indie, tentando enquadrar João Gordo por suposta traição. A PI só tolera movimentos de raiz.

Eles também são responsáveis por definir quais são os ritmos liberados para que o Indies possam escutar. Foram eles que liberaram o technobrega e Gaby Amarantos nos últimos anos. Eles que estão abrindo o uso de É o Tchan para fins recreativos. E eles também que definiram que gostar de Bruce Springsteen é requisito necessário para abrir um crediário nas Casas Bahia (Em tempos remotos, essa exigência existia com o nome de Paul McCartney).

No entanto, assim como eles criam, eles também podem destruir. Veja o caso do Strokes que foi lançado pela Polícia Indie no começo do século e que hoje em dia está absolutamente criminalizado. Não basta não ouvir, é preciso ridicularizar a banda no Twitter para não ser preso. O Franz Ferdinand é a próxima banda que está seguindo por esse caminho.

Claro que há uma outra possibilidade de exercer sua liberdade auditiva, que é nos shows. A Polícia Indie ainda não conseguiu se infiltram nas maiores esferas de poder para proibir a reunião de criminosos em lugares públicos e tampouco andam armados para reprimir com violência essas manifestações. Aliás, muitos dos policiais até vão no show, apenas para constatar o declínio da banda. Não procede a informação de que, escondidos, eles até cantam alguma música.

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