O curioso caso das festas juninas em Julho

Se há alguma coisa que marque o mês de junho, esta coisa é, ou são, as festas juninas. Se as festas juninas ocorressem em outubro, teríamos as festas outubrinas, que seriam um clamoroso fracasso de marketing. A Igreja católica foi certeira em seus objetivos quando optou por marcar os dias de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo para esta época do ano. Entre outras coisas, porque associaram a marca ao solstício de verão no hemisfério norte, uma comemoração tradicional para as antigas civilizações.

Na Europa eu não sei, mas no Brasil a festa junina é associada às festas caipiras. Uma oportunidade ímpar de comer cachorro quente, pastel, bolo, mais um cachorro quente, tomar um refrigerante, partir para o terceiro cachorro quente, tomar um porre de quentão, mais um cachorro quente, pensar em uma espiga de milho e morrer de congestão no quinto cachorro quente. A festa junina também é uma oportunidade para participar de dezenas de atividades lúdicas como:

Quadrilha: Vai ocorrer um casamento e os noivos, o padre e os convidados precisam passar por uma espécie de Via Crúcis para legitimar a união perante o divino. No meio do caminho existirão cobras, pontes quebradas, chuvas torrenciais e a emblemática figura do pai da noiva. Ou será que é tudo mentira? Antes de mais nada, a quadrilha é um exercício de sanidade mental, no qual você precisa seguir sua intuição.
Nada como uma atividade lúdica

Pau de Sebo: Jogo de cunho homoerótico em que as pessoas têm que subir em um pau gigante e escorregadio. Quem conseguir ganha um prêmio.

Pescaria: Crianças tentam capturar peixes fictícios em uma piscina de água ou de areia. Quem consumar o ato ganha algum brinde, que no começo pode até ser interessante, mas que no final acaba virando tupperware ou loção pós-barba.

Enfim, como já foi dito, a festa junina ocorre em junho. No entanto, nos últimos anos eu tenho percebido o fenômeno cada vez mais frequentes das festas juninas realizadas em julho. Neste ano mesmo, eu não fui convidado ou confrontado com nenhuma festa junina tradicional. No entanto, desde que julho começou eu já fui em uma e já ouvi falar de mais quatro.

Qual é a razão desse fenômeno social, comparado somente ao churrasco vegetariano? Seria uma crise de valores sociais sem precedentes do homem euro-hétero-macho-autoritário?

Bem, acredito que a culpa é desse mundo em que vivemos. Cada vez temos a sensação de que temos menos tempo para fazer as coisas. Assim sendo, só nos lembramos da existência das festas juninas e como é legal ganhar um tupperware na pescaria e morrer de overdose de cachorro quente, quando já estamos em junho. Só quando junho chega é conseguimos pensar em organizar uma festa junina, e então, ela só é posta em prática quando julho chega.

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