Queóps Financeiro

Certa vez, durante uma visita ao Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, tive acesso a uma informação essencial para minha vida. Uma tela animada informava que a palavra trabalho tinha origem no latim tripalium, um instrumento de tortura medieval formado por três paus. O tripalium era ótimo para promover espancamentos didáticos e para esticar a vítima, causando a desarticulação dos seus membros superiores e inferiores. Um instrumento moderno, uma verdadeira máquina de matar.

Bem, mais do que aprender sobre a evolução da tortura, aprendi que o trabalho é considerado uma desgraça desde a antiguidade. Não importa se você acorda às 4h da manhã para passar três horas dentro de um ônibus e passa o dia inteiro limpando privadas com um breve intervalo de 15 minutos para comer uma marmita fria. Se no fim do dia você cai desacordado na cama ou se seu trabalho se resume a pintar quadros de natureza morta na sala de casa. Não importa, se você tivesse a opção, você não trabalharia.

Trabalho não é prazer e se você se diverte trabalhado, você não tem realmente um emprego. Esta torturante informação deveria ser amplamente divulgada na Grande Imprensa. O jornal de hoje deveria informar isso, ao invés de incentivar as pessoas a procurarem uma atividade prazerosa. Isso acabaria com a ilusão e com o sofrimento pelo qual as pessoas passam em busca da felicidade na função que desempenham. É mais justo informar às pessoas que o sofrimento é inerente ao trabalho, mas que você precisa disso para sobreviver.

Essa informação também ajudaria a acabar com os esquemas de pirâmides financeiras.

O esquema da pirâmide é simples. Você paga um valor para uma pessoa e depois recebe esse mesmo valor de outras cinco pessoas. Essas 25 pessoas também receberão dinheiro de outras cinco pessoas. Em 14 passos, precisaríamos promover expedições interplanetárias para que o esquema continuasse viável.

Para que o golpe não se pareça óbvio, você tem que prestar algum serviço irrisório, que pode ser vender barras de cereal ou fazer publicidade. Ah, a publicidade. Como é um trabalho difícil de ser quantificado, ela é ideal para praticar os mais diversos atos ilícitos.

Na era da internet, os esquemas de pirâmide financeira são acompanhados pela promessa de liberdade, dinheiro fácil. Fique em casa colando anúncios no Facebook e ganhe dinheiro facilmente. Voltamos a dizer, trabalho não é fácil, é uma tortura. Você só ganha dinheiro facilmente através de atividades ilícitas.

Os participantes da pirâmide acabam formando guerrilhas, verdadeiras tropas de choque virtuais. Qualquer notícia denunciando que o esquema é uma fraude recebe uma enxurrada de comentários afirmando que isso é mentira, que se trata de um negócio sério. Os discípulos de Gizé enchem as redes sociais falando como eles são felizes e como ganham dinheiro fácil, otários. Mas, isso faz parte do negócio, afinal, eles só continuarão a receber dinheiro se mais pessoas entrarem no negócio, investindo o dinheiro deles que irá para o seu bolso, otários.

Enfim, se desde cedo todos nós fossemos ensinados que o trabalho é uma tortura, nada disso aconteceria. Ninguém alimentaria ilusões por um emprego legal com boa remuneração. O mundo seria um lugar melhor para se viver.

Voa!

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