As 7 músicas novas dos Benga Boys

Segunda-feira, 17 de junho. O Brasil estava em ebulição. Manifestantes subiram no teto do Palácio do Planalto e tomaram as ruas de várias capitais brasileiras. Todas as cidades brasileiras organizavam seus protestos contra a corrupção, violência policial, qualidade dos serviços públicos e em pouco tempo começaram os famosos atos de vandalismo. Em Londres, a trilha sonora do protesto foi o The Clash com London’s Burning, London Calling, English Civil War, White Riot. Mas, e no Brasil?

Quinta-feira, 20 de junho. Os protestos chegaram com força a Cuiabá e 50 mil pessoas saíram às ruas. No meio de tantos gritos me deparo com o velho Zé Coveiro, vocalista e guitarrista dos Benga Boys. Seu visual está cada vez mais excêntrico, como se não tomasse banho há 40 dias. Travei um breve diálogo jornalístico com ele.
Como vão os Benga Boys?
Demos um tempo aí, estamos sem lugar pra tocar. Fora isso, o ultrahardcore nunca vai dar dinheiro e eu tive que pegar uns freelas lavando prato pra pagar aluguel. Fora isso, o Defunto pegou AIDS num daqueles filmes que ele fazia. Fora aquela confusão do último show em 2011, nossos instrumentos pegaram fogo. Mas a gente aproveitou esse clima aí do povo chegando na rua e resolvemos gravar sete músicas novas.
Já gravaram?
Precisamos de meia hora só, pra pegar nossa espontaneidade no estúdio. O Furúnculo já gravou os CDs e eu to terminando de fazer as capas. Domingo vai ter o lançamento, lá nas ruínas do Hospital Geral. Vamos pra um lugar maior, depois que o Ministério Público proibiu os shows em Banheiros Químicos. Depois pensamos em fazer uma turnê em Jangada, Diamantino, Acorizal e Paranatinga, onde der.
Aliás, teve um boato de que vocês tinham morrido num acidente de carro.
Mentira. Mas pouco importa. A morte não me impediria de fazer rock ‘n’ roll. Veja o João Cavalo. Ele morreu, mas o seu fêmur continua produzindo um som foda na bateria. Aparece lá domingo.

Domingo, 23 de junho. Saio de casa para prestigiar mais um show dos Benga Boys. Quase chegando no local do show vi uma grande aglomeração e pensei “uau, o público deles está crescendo, isso vai ser um problema”. Mas era só uma manifestação contra a seleção espanhola de futebol. O local do show tinha apenas umas 100 pessoas pogueando ao som do primeiro disco dos Ramones.

Encontrei o guitarrista Rodrigo Furúnculo vendendo CDs para um cidadão em uma cadeira de rodas. Ele me contou que ficou paraplégico após o lendário show no banheiro do IL em 1990 e que desde então nunca mais perdeu um show dos Benga Boys. “Tirando aqueles shows de quando eles tocavam em micareta”, disse. Logo depois, um fã mais radical reclamou que o encarte do CD era em caneta Bic. “Você traiu o movimento punk, véi! Nem utiliza mais caneta de posto de gasolina!”. Um princípio de confusão começou, mas foi interrompido quando o fã desmaiou em coma alcoólico.

Perto das 23h os Benga Boys entraram no palco. Zé Coveiro virou uma garrafa de Jamel e jogou a garrafa de vidro na plateia, cortando fora a orelha de um fã, que a segurou como se fosse um troféu. Ele fez um breve discurso sobre a situação do mundo e os motivos que fizeram o Benga Boys voltar. O público cantou “cala a boca e toca”.

A banda então tocou suas sete canções novas. “Obama Get Out My Facebook”, é uma virulenta canção contra Barack Obama bisbilhotando o Facebook da população. "Kill the Presidenta”, “Burn out braZil”, “Destroymania", "Street Clash", "FIFA Fuck Out" e "Blood in Your Eyes”, sobre as revoltas no Brasil. Poderia descrever aqui como as músicas são, mas nós estamos falando de hardcore. São todas iguais.

No final do último númeroo fêmur de João Cavalo se rompeu e foi substituída por uma tíbia. Seguiram-se então os clássicos como Fuckin’ With Dead Woman, I Love Your Mother Ass, Shit on the Corner, Put my Cock in your ears, T.O.B.A., Toilet Song e Bastard Dog. Quase no final foi a vez de um cover de Nazi Punks Fuck Off e durante seus 60 segundos de duração foram praticados 42 Stage Dives! Praticamente metade do público subiu ao palco e se jogou, o que provocou muitas quedas no chão.

A última canção foi a violenta Pussy Vomit, primeira música do grupo, tocada em versão ainda mais acelerada. Era possível escutar os ossos da plateia se quebrando e em certo momento eu fui atingido por um dedão do pé. No tradicional e apoteótico final do show, o baixista Pedro Tolete vomitou sobre os restos mortais da plateia.

Segunda-feira, 24 de junho. A semana CH3 em homenagem aos 7 anos do CH3 chega ao fim. A presidente Dilma Rousseff nos recebe em seu gabinete e Zé Coveiro me entrega seu CD, pedindo ajuda na divulgação. O problema, é que parece que se você colocar o CD no computador, ele explode.

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