12 de Junho: o mal-estar da civilização

Se você fazer um ranking para escolher o melhor dia do ano para sair de casa, o dia 12 de junho ocuparia a 365ª posição, ou 366ª se o ano for bissexto. É melhor sair de casa no Natal, no Ano Novo, na Páscoa, Carnaval, Finados, segunda-feira ou 29 de fevereiro. Qualquer dia do ano supera o Dia dos Namorados.

Fogão de seis bocas é coisa do
passado. A moda agora é fogão
de oito bocas com dois fornos
Todos os estabelecimentos comerciais querem lucrar com o esse dia. Mesmo as lojas de eletrodomésticos e as funerárias fazem promoções especiais para os apaixonados. Não basta dar uma lembrança, é preciso dar O Presente inesquecível. Um problema em uma sociedade recheada de pessoas imaturas em relacionamentos instáveis, dispostos a presentear seu parceiro com um carro zero no terceiro mês de namoro.

Esta data não está restrita apenas aos namorados. Os amantes, ficantes, pretendentes, aqueles que, como dizem as celebridades, estão apenas se conhecendo, os noivos. Todos tem que se presentear. Mesmo aqueles que já estão casados há 45 anos e aparecem em matérias do Jornal Hoje dizendo a batida frase “eternos namorados”. E todos eles saem para um jantar especial.

Em qualquer outro dia do ano você consegue sair de casa e ir comer em algum lugar, exceção feita aos moradores de São Paulo. Pode não ser o melhor lugar da cidade, o seu lugar preferido, mas, você consegue sair, estacionar seu carro, se sentar em uma mesa, ter acesso a um cardápio, fazer seu pedido, comer, pagar a conta e voltar para casa. Você pode escolher fazer isso sozinho, em companhia de outra pessoa, de várias pessoas ou com a Torcida Uniformizada do Flamengo. No dia 12 de junho, não.

Melhor ser órfão no dia das mães e
rena no Natal, do que ser solteiro no
Dia dos  Namorados.
Sair com sua alma gêmea (dois amantes, dois irmãos) nesta noite é uma epopeia. Você rodará pela cidade congestionada de carros ocupados por casais em busca de um lugar vago. De antemão, você desconsiderará alguns estabelecimentos, porque eles estarão obviamente lotados, ou são ridiculamente caros. Seu foco estará em rotas alternativas, mas nem por isso fáceis.

Passe em frente daquela pizzaria que você já foi umas três vezes e recebeu tratamento exclusivo do garçom. Ela está lotada de mulheres de vestido e homens de camisa social. Passe em frente do outro bar que só costuma a ter meia dúzia de intelectuais boêmios e ela também estará lotada de casais, nem sempre intelectuais, nem sempre boêmios.

Você finalmente vê que um restaurante está com uma mesa vaga. Mas é impossível estacionar o carro e chegar até lá. O outro restaurante trabalha com uma lista de espera e horas marcadas. Você já está quase desistindo, pensando em passar no supermercado e levar uma pizza Sadia para assar em casa. Mas o supermercado também estará lotado de casais que tiveram essa mesma ideia. Até que, por um milagre, você encontra um local.

Ocorre então o constrangedor momento do encontro de casais. É aquela hora em que você desce do carro e encontra outro casal, também descendo do carro, ou quando os dois casais se encontram na porta do restaurante. Todos pateticamente produzidos, batalhando por um lugar na mesa, com aquela cara de constrangimento, cumprindo o ritual.

Pior ainda é quando você encontra o já citado casal juntos há 45 anos. A vontade é de falar “meus amigos, vocês já construíram uma família, já tem uma casa, fiquem nela. Comprem uma pizza Sadia e uma garrafa de vinho. E, por favor, não me venham com essa história de eternamente namorados”.

Ainda existem os casais que partem para uma prorrogação da noite em um Motel Chamego da vida. Uma verdadeira aventura marcada por filas e constrangedoras congestionamentos na porta. Sempre existe a possibilidade de você encontrar o pai dela no carro da frente, ou ser assaltado e ficar sem graça para dizer o local do acontecimento no B.O.

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