Paul McCartney: seu passado lhe condena

Uma das coisas mais esquisitas da sociedade atual é o superdimensionamento que a carreira de Paul McCartney ganhou. Em um curto espaço de tempo, Paul se transformou em uma espécie de unanimidade das multidões. Ok, ele escreveu inúmeras canções excelentes nos tempos de Beatles (e aqui fala um cara que tem todos os CDs dos Beatles em sua estante), assim como escreveu outra ótimas músicas em sua carreira solo. Acredito sim, que Paul McCartney deva ser reverenciado por onde passe. O que me incomoda é esse fato recente de Paul ter se transformado em um herói para todos.

Veja que sua carreira solo é absolutamente mediana. Falo com convicção que nenhum dos discos que Paul lançou desde 1970 chega perto de alcançar um disco dos Beatles, mesmo que seja apenas o Let it Be. Antes que me perguntem, já digo que entre as carreiras solo das forças criativas dos Beatles, minha preferida é a do George Harrison. Não que seja absolutamente brilhante, mas a carreira de Harrison é constantemente agradável. Credito isto ao fato de que George nunca enfiou sua mulher nos discos e, para mim, esse é o problema que abateu a dupla Lennon/McCartney.

Vejamos: John Lennon lançou dois discos bons, um disco mediano e então passou a enfiar Yoko Ono em seus trabalhos. Seu último disco, Double Fantasy, é dividido meio a meio com a japonesa. A metade de Lennon é muito boa, enquanto que a metade da Yoko é insuportável. Você sente medo de que alguém tenha visto você escutando aquilo. Para não ficar para trás, Paul resolveu intrometer Linda McCartney nas suas músicas. O problema é que Linda não tinha talento nenhum e só ficava enchendo o saco com backing vocals inúteis. A vantagem de George, é que logo no começo ele foi chifrado pelo Eric Clapton e largou a mulher de lado, se dedicando apenas a fazer sua guitarra chorar gentilmente.

Voltamos ao Paul e o meu espantamento sobre a sua unanimidade. Vejam, que os shows de Paul McCartney se transformou em um evento social, um acontecimento, praticamente um happening. Não é apenas um show de rock. Em sua plateia estão fãs absolutos e também todas as duplas sertanejas possíveis, apresentadores de TV, jogadores de futebol, subcelebridades. Todos pelo holofote. Everybody Loves Paul. Mesmo que só saibam cantar o na na na na de Hey Jude.

Vamos analisar sua carreira solo. Depois de lançar clássicos como Yesterday, Here There and Everywhere, Penny Lane, Hello Goodbye, Hey Jude, Get Back, Let It Be, Oh! Darling, Paul anunciou o fim dos Beatles e também que lançaria seu primeiro disco solo chamado simplesmente de McCartney.

McCartney é um disco agradável, coma algumas músicas excelentes (Maybe I'm Amazed, Every Night), mas no geral se parece com um trabalho gravado entre o café da manhã e o almoço, no banheiro da casa dele. Alguns números parecem até que foram gravados no dia de lançar o álbum, só pra preencher o espaço.

Aliás, Paul sempre pareceu precisar encher linguiça nos seus discos. Mesmo nos melhores, como Ram. Nos anos 70, Paul ainda encasquetou em lançar álbuns meio conceituais, cheio de vinhetas e processos de gravação demorados que envolviam viagens a Nigéria. Montou o Wings, um negócio familiar em que outros membros inúteis tocavam instrumentos para as músicas dele e seu único disco que parece não ser encheção de linguiça é justamente Band on the Run, o melhor de todos.

Depois de Band on the Run, Paul McCartney entrou numa fase de não lançar nada de importante. Veja os últimos discos dos Wings e perceba que não há nada de interessante.

Aí então chegamos aos anos 80 e vemos o passado que condena Paul McCartney. Paul lançou um insuportável disco eletrônico chamado burocraticamente de McCartney II. Gravou duetos com Stevie Wonder e, pior, com Michael Jackson. Say, Say, Say de 1983 é um dos momentos mais constrangedores de Paul. Só não é o maior por causa disso:



No More Lonely Nights mostra Paul batalhando duramente pelo mercado das rádios easy listening em um clipe brega, com uma constrangedora cena de fogos estourando atrás dele na noite escura. Ok, o clipe nem é tão ruim assim, o problema é a música. A partir de então, Paul passou a ser visto praticamente como um necrófilo que vivia do passado, chato para cacete com um discurso ambientalista mala e que gravava músicas de elevador.

Paul ainda lançou outros discos pavorosos nos anos 80 até que em 1997 gravou Flaming Pie. O documentário do Anthology dos Beatles fez suas músicas antigas serem redescobertas e McCartney começou seu caminho rumo a unanimidade com discos agradáveis, no máximo.

Colabora para sua unanimidade, o fato de que ele é um cara muito simpático e que, realmente, não há nenhum ser vivo mais importante para o Rock do que ele. Como resistir ao que ele fez nos anos 60? O que me é estranho é o fato de as pessoas comemorarem tudo o que ele tenha feito, inclusive suas muitas músicas medíocres pós-70.

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