Músicas com metáforas sexuais

As metáforas estão presentes em várias letras da música brasileira. Aliás, os mais fanáticos diriam que todas as letras de música são metáforas. Poeticamente falando, é bem pouco interessante descrever as coisas com um significado concreto. É muito mais legal criar figuras abstratas, que dão margem para a interpretação e o exercício intelectual. Serve também para você se defender, dar uma de sonso e dizer que não quis falar aquilo que as pessoas acham que você estava falando.
“Não, não. Eu não quis dizer que pretendo sodomizar a presidente da república na frente dos seus netos. Quando eu cantei ‘adentrar a liderança pela porta dos fundos, aos olhos de uma minoria’, foi apenas uma metáfora para as manobras espúrias que as pessoas fazem pelo poder. Não, não. De maneira alguma quis satirizar o popular canal de vídeos do Youtube”.
Sendo que o sexo e falar de sexo são grandes tabus para a nossa sociedade, as metáforas sexuais estão entre as prediletas dos nossos compositores populares. E nem falo aqui de clássicos como “Cerol na mão” do Bonde do Tigrão, com seu clássico verso “vou aparar pela rabiola” (metáfora para sexo anal) ou ainda um clássico sertanejo de 15 anos atrás, que dizia “tira o carro, põe o carro na garagem da vizinha, que garagem apertadinha”, que dispensa maiores comentários.

Também não pretendo falar de todas as letras do É o Tchan e muito menos de todos esses sertanejos onomatopeicos contemporâneos, em que o tchu, o tcha, o tcheretche, o tãe, o lêlêlê e o bará berê são apenas formas imbecis de se referir ao vuco vuco. Vamos falar de compositores mais respeitados.

Esses dias eu estava na fila do supermercado e a rádio ambiente começou a tocar uma música do Lulu Santos, um desses tantos sucessos do compositor sexagenário. Empacotava o pão enquanto ouvia “ela me faz tão bem, ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela”. Naquele momento a ficha caiu. Essa não era uma tola canção sobre querer o bem da pessoa querida. É uma música sobre a retribuição do sexo oral. Ela faz tão bem, que ele também quer fazer nela.

Observando a letra mais atentamente, é possível perceber toda a sacanagem implícita. “Ela demonstrou tanto prazer de estar em minha companhia, eu experimentei uma sensação que até então não conhecia”. Diria eu, que Lulu canta sobre sua primeira paixão, a perda da virgindade.

Quando eu tinha uns oito anos, eu passei férias em Ilha Grande. Todos os dias a rádio tocava uma música do Kid Abelha “fazer amor de madrugada, amor de um jeito de virada” e um saxofone irritante. Aquele verso enigmático ficou na minha cabeça infantil. Que história é essa de amor de jeito de virada?

Digo que essa dúvida ficou em minha cabeça durante muito tempo e só recentemente eu percebi que é uma música sobre sexo anal. Seu nome é “Pintura Íntima” e aposto que Leoni e Paula Toller pensaram em chamá-la de “Pintada Íntima”, mas ia pegar mal pra intimidade do casal.
Digamos que ela é o Benjamin Button em pessoa
A letra tem algumas passagens bem selvagens como “eu to seco, eu to molhado” – sobre o uso de lubrificantes – e “não reparou que eu to vermelho”, sobre as assaduras provocadas pela prática do sexo não convencional. No entanto, essa deveria ser a única saída para Toller, já que seu namorado devia ter um pênis bem esquisito, como ela cantava naquela outra canção “tira essa bermuda que eu quero você sério”. Só um cara com um pênis parecido com o Delfim Neto pode parecer sério quando está nu.


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