Figuras Estranhas do Cotidiano

Ontem eu dei uma passada em um Shopping Center de Cuiabá. Logo na entrada, passei por um desses quiosques de TV a Cabo que quase nunca tem ninguém. Dessa vez, não havia uma viva alma em um raio de três metros do local. Você pode argumentar que é pelo fato de que as pessoas temem chegar perto com medo de que assinem alguma coisa sem nem perceber. Mas, para mim, a culpa era do vendedor.

O vendedor estava lá, solitário, encostado sobre a bancada. Barba por fazer e óculos de psicopata. Sua visão era assustadora e parecia que ele poderia matar qualquer um que passasse no seu caminho.

Na volta, quando eu fui sair do shopping, passei novamente em frente do quiosque. O vendedor continuava imóvel. Aposto que no tempo em que eu passei dentro do estabelecimento comercial, ele permaneceu sem mexer nenhum músculo, movendo apenas os seus olhos em busca de sua próxima presa. Acredito que o shopping tenha fechado com ele ainda lá dentro. Nenhum segurança teria coragem de pedir que ele fosse embora.

Todos os dias nós passamos por uma série de figuras estranhas no nosso cotidiano. Pessoas que parecem ter caído de uma espaçonave, escapado de um hospício ou sofrido algum dano cerebral irreversível ainda na infância. Aquele cara de bigodes longos e chapéu que bebe uma cerveja em um posto na beira da estrada em General Carneiro. O motoqueiro tatuado, o Falcão, o Tiririca e tantos outros entrevistados no programa do Jô.

Algumas vezes eu já vi no meu bairro um cara que pesa uns 200 kg. Tá certo que não são muitas as pessoas que pesam 200 kg, mas o que realmente chamava a atenção nele é que ele anda sem camisa e com uma bermuda que deixa metade da bunda a mostra.

Certo dia, eu estava indo para a academia de manhã e o vi saindo de casa. Bem, imagino que seja a sua casa. Não acredito que ele estivesse lá promovendo alguma maldade, tipo, engolindo os seus moradores. Logo que ele passou pelo portão, senti um forte cheiro de merda. Por um momento, pensei “a fossa estourou” e segui o meu caminho. Nunca mais senti cheiro de merda naquele lugar. Consertaram a fossa, talvez.

No entanto, outro dia, passei por esse cidadão em outro ponto no bairro. Ele carregava uma sacola de supermercado em suas mãos, com pães e ovos, talvez. Quando passei por ele senti um forte odor de fezes e logo cheguei a conclusão de que não havia fossa estourada, nunca houve. O cheiro de merda provinha dele. Era ele quem o tempo todo estava cheirando a merda.

Logo imaginei ele cheirando a merda no supermercado, pedindo um pão e um pouco de queijo. Imaginei ele entrando no ônibus e as pessoas pensando que alguém tinha cagado na roleta. Pensei no estranhamento que aquele ser exótico sem camisa fazia em todos os lugares em que ele passava. No estranhamento que essas figuras exóticas provocam no nosso cotidiano. Mas, não limpar a bunda é sacanagem.

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