A farsa das mãos suavemente secas com duas folhas de papel

Um banheiro público não é exatamente o local mais agradável do mundo. Estes locais geralmente possuem um forte odor de urina e um talento para aparições surpresas de toletes gigantes que flutuam nas privadas. As descargas tendem a não funcionar, os mictórios são lotados de chicletes (eis uma grande dúvida para mim: porque as pessoas cospem o chiclete no mictório, se todos os banheiros invariavelmente têm lixeiras?), as torneiras contém vazamentos e sabonete para lavar as mãos é um artigo de luxo.

Para finalizar, há o ato de secar as mãos. Um ato de fundamental importância, porque sair do banheiro com as mãos molhadas pode ser um tanto quanto desagradável. As pessoas poderão pensar que você mijou nas próprias mãos, ou que enfiou a mão dentro da privada.

Ao longo dos anos, enxugar as mãos em banheiros públicos tem proporcionado enormes dilemas para a humanidade. Em tempos remotos, eram disponibilizadas toalhas que em poucos minutos estariam ensopadas e fedendo. Em tempos recentes, os shopping centers tem investido naquela máquina de ar quente, que é um tanto quando inútil. Por isso mesmo, a preferência nacional é pelas toalhinhas de papel.

O problema é que a toalhinha de papel não chega a ser totalmente eficiente na tarefa a que ela se propõe. Digamos é a forma menos ruim de se enxugar as mãos. Fora que ainda há o dilema ambiental, porque são gastas milhares de folhas, suficientes para reflorestar a mata atlântica. Tudo para poder cumprimentar as pessoas de cabeça erguida, olhar nos olhos do seu inimigo e dizer “eu posso apertar sua mão, porque minhas mãos não estão úmidas”. E sem precisar molhar a camisa.

Mais eis que os publicitários, imagino que essa ideia tenha partido de um desses malditos, resolveu divulgar que existem folhas tecnológicas que permitem que as mãos fiquem suavemente secas com apenas duas folhas de papel. Isso é uma farsa.

Você entra no banheiro e dá de cara com o puxador de papel. E lá está escrito que essas folhas foram desenvolvidas com tecnologia da NASA, que este papel possui microfibras que permitem uma alta absorção da água e que bastam apenas duas reles folhas para que você fique com as mãos suavemente secas. Diante de tais informações, você sorri e fica aliviado com o pensamento de suas mãos áridas.

Mas, isso não acontece. Suas mãos continuam molhadas, ou, suavemente secas. Você pode dizer que era exatamente isso que era prometido. Acontece que suas mãos ficam suavemente secas com duas folhas de qualquer papel, mesmo papel sulfite. Portanto, não haveria razão para anunciar isso como um feito.

É uma tentativa de transformar o normal em extraordinário. Como o político que se vangloria de pagar salário em dia. Uma invenção de publicitários. A farsa das mãos suavemente secas com duas folhas de papel.

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