Entendendo: o Conclave

O conclave é a cerimônia através da qual a Igreja Católica escolhe seu novo representante máximo, o papa. Ao contrário de outros processos eleitorais que ocorrem regularmente, o conclave só acontece quando o posto está vago, geralmente pela morte do antigo papa. No entanto, a renúncia de Bento 16 abre brechas na legislação e no futuro podemos até vislumbrar a oportunidade de a Veja provocar um processo de impeachment do sumo pontífice, com matérias apontando nepotismo ou a compra de uma Elba com cheque falso.

Uma vez que o papa anuncia que está fora, ou que os médicos anunciam que o papa morreu, a Igreja convoca seus cardeais do mundo inteiro para que eles venham até Roma votar. Aqueles que não comparecerem e não justificarem sua ausência ficarão inelegíveis e terão dificuldade em conseguir abrir crediário nas Casas Bahia. Como prova da modernização institucional da Igreja, para o conclave deste ano a convocação foi feita por meio de aparelhos de fax.

Feita a convocação, os cardeais tem um prazo de 15 dias para chegarem a Roma. Um prazo camarada, porque todos nós sabemos como é chato ficar sem poder abrir um crediário nas Casas Bahia. Além disso, o deslocamento dos cardeais não é assim tão rápido. Vocês sabem quanto tempo leva para fazer uma viagem de cavalo de Estocolmo até Roma?

Chegando na capital italiana, os cardeais são recebidos por membros da Guarda Suíça que irão conduzir os candidatos ao pontificado através de sinuosas ruas do Vaticano. O objetivo é despistar possíveis perseguidores e provar a fé dos padres. É preciso ser bem crente para manter a postura e a frieza enquanto se passa por ruas sombrias de uma cidade que você não conhece.

Os cardeais chegam na Capela Sistina e no edifício anexo da casa de Santa Marta. Lá dentro, eles deverão permanecer desconectados do mundo, lacrando seus celulares, smartphones, tablets e notebooks em um cofre. Por via das dúvidas, o wi-fi da Capela é desativado e a assinatura dos jornais é suspensa. Cada cardeal tem direito a companhia de três padres, com quem eles poderão se confessar e conversar sobre assuntos internos. É expressamente proibido que eles sejam informados sobre os rumos de Salve Jorge, ou os resultados da Champions League. Os infratores serão excomungados.

A rotina dentro da Capela durante o conclave não é das mais emocionantes. Os cardeais passam o dia inteiro rezando, comendo e votando. Quase igual aquele Best-seller que virou um filme com a Julia Roberts. Eles acordam, rezam, votam, rezam, almoçam, rezam, votam, fazem um lanche e voltam a votar. Para que alguém seja eleito novo papa, ele precisa de 2/3 dos votos dos cardeais. Algo difícil quando a propaganda eleitoral é proibida.

Pode ser que tudo seja definido na primeira votação, mas pode ser que o processo se estenda por até 34 sufrágios. Se o consenso não for obtido após 20 votações, eles param por um dia, para pensar no que é que eles estão fazendo. Diz a história, que o lendário conclave de 1268 durou quase três anos e três cardeais morreram durante o processo. Para evitar que isso se repetisse, criaram as regras do conclave, que seguem até hoje.

Quando finalmente alguém é escolhido, eles rezam novamente para agradecer que tudo tenha acabado. Então, vem a famosa cena: a fumaça branca saí do teto da capela e alguém aparece anunciando “Habemus Papa!”. Em dez minutos, o novo papa aparece na janela, abençoa seu povo e anuncia seu nome artístico, para delírio da multidão que permaneceu dias na Praça São Pedro, provando sua fé na espera. Delírio dos jornalistas, que podem especular ainda mais.
Habemus Papa!
Há de se pensar em quão desgraçante é a vida do estagiário que tem que soltar a fumaça pela chaminé. Assim que os padres se reúnem para votar, ele sobe lá com o isqueiro na mão e tem que se preocupar em não fazer a fumaça errada. Vai que ele solta fumaça branca por engano? Geraria inúmeras interpretações conspiratórias, uma crise mundial e vários livros do Dan Brown.

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