Por Onde anda: Mister M

O Mister M foi uma dessas figuras excêntricas que dominaram o noticiário planetário durante determinado período. Seus feitos e seus atos eram motivos de discussão nas mesas de bar e nas rodas de samba. Todo domingo a noite, as pessoas paravam para assistir ao seu quadro no Fantástico, narrado orgasticamente por Cid Moreira. No entanto, ele sumiu. Não virou um quadro fixo do Fantástico, como Dráuzio Varela ou Max Gehringer, que estão sempre lá, falando de todos os assuntos possíveis.

Ele também foi uma figura emblemática da sua época, um típico representante do final do século XX. Seu auge foi em 1999 e precisamos lembrar que naquele tempo a humanidade vivia com muitas dúvidas sobre a virada do século. Temíamos o Bug do Milênio e, nesse contexto, qualquer mascarado poderia ganhar ares messiânicos.

A função do Mister M, nome artístico de Val Valentino, que por sua vez deve ser outro nome artístico, porque seria sacanagem alguém se chamar assim, sua função era desvendar os truques dos mágicos e ilusionistas, ilusionista que ele próprio é. Foi ele quem ensinou que não, a mulher não é serrada ao meio e depois costurada e ressuscitada pelo David Cooperfield. Na verdade, trata-se apenas de uma contorcionista.

Ele também mostrou que os mágicos não conhecem o segredo da vida para tirar coelhos da cartola, não engolem espadas, não transformam mulheres em penas e tampouco detém o dom do teletransporte. Para tudo, sempre existe um truque de espelhos, bailarinas tchecas, gêmeos malabaristas e uma mão boba no canto esquerdo que desvia todo o foco do público enquanto a mágica é realizada.

Nosso senhor das trevas se caracterizava por seu vestuário esquizofrênico, ótimo para ser utilizado em festas a fantasia. Na virada do século, em todo e qualquer jogo de futebol disputado no território brasileiro, sempre haveria um cidadão vestido de Mister M. Poderia não haver os gols, poderia não haver os jogadores, nem sequer a bola e muita menos o gramado. Mas o indivíduo fantasiado estaria lá. E seria filmado pelo Globo Esporte.

Val Marchiori, digo, Valentino, também ficou famoso pela relação um tanto quanto homoafetuosa que Cid Moreira desenvolveu por ele. Os detratores diziam que Cid estava claramente se masturbando enquanto dizia “ahhhhhh Mister M! Como você fez isso, Mister M???? Ahhhhh, tesão!”. Detratores, volto a lembrar.

O fato é que tal qual Cid Moreira, o mágico mascarado está sumido. Todos nós nos perguntamos: como é que pode? Como pode um cidadão que chegou a ser apontado como futuro presidente do país, um líder mundial capaz de promover o fim dos conflitos religiosos ao redor do planeta, como pode ele desaparecer? A resposta é simples.

Não podemos nos esquecer que o ofício oficial de Mister M era a mágica. Assim sendo, ele foi sua própria desgraça. A partir do momento em que ele expôs todos os seus truques, ele próprio perdeu o sentido. Porque alguém pagaria dinheiro para ver uma mulher se contorcendo dentro de um caixote, enquanto um indivíduo afetado simulava serrar o caixote ao meio?

Se hoje Mister M faz shows esvaziados em Las Vegas, a culpa é dele próprio. Ele cometeu um suicídio profissional.

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