O Ódio ao BBB

Se o Big Brother Brasil tem um mérito indiscutível, é o de despertar os sentimentos mais primitivos no povo brasileiro. Desde sua estreia em 2002 existem pessoas que odeiam, existem pessoas que amam e existem pessoas que cagam e andam para o BBB. Quer algo mais primitivo do que cagar e andar?

A única edição do programa que eu acompanhei foi a da sua estreia, mas acredito que nestes 11 anos o seu formato pouco tenha mudado. Pessoas sem muito conteúdo ficam sentadas na frente de uma piscina mostrando seu desconhecimento sobre os mais variados assuntos. O mundo entanto, acredito que mudou muito desde a época em que Kleber Bambam dava chilique em rede nacional por conta de uma boneca de lata.

Em 2002, a internet banda larga era um artigo de luxo e as pessoas que conseguiam baixar arquivos a 30k/s comemoravam e se transformavam em líderes naturais. Hoje em dia vivemos conectados 24 horas por dia e vivemos no Facebook e para o Facebook, uma rede social baseada no compartilhamento de frases motivacionais sobre imagens do pôr do sol. Uma rede em que uma foto com uma música do Peninha é mais curtida do que um trecho de Mario Quintana, sem foto. Uma rede que mostra que chegará o dia em que pessoas se comunicarão por sinais e os mímicos de semáforo serão substituídos por pessoas que saibam falar em troca de algumas moedas.

Um mundo dominado por petições online, dezenas de abaixo-assinados realizados por revolucionários de sofá que buscam exigir virtualmente que o papa não renuncie ou que o meteorito não caía mais na Rússia. Exigir, justamente, que o Big Brother Brasil saía do ar.

A lógica da ideia é estapafúrdia. Não sei de onde as pessoas acreditam que juntar um milhão de compartilhamentos de uma imagem no Facebook irá fazer a Globo tirar o BBB do ar. Que a emissora irá desistir dos seus dois milhões de telespectadores apenas na Grande São Paulo ou dos patrocínios milionários de grandes empresas para satisfazer os revolucionários virtuais.

O que mais me intriga é o porquê de as pessoas quererem tirar o Big Brother do ar, sendo que você simplesmente tem a opção de não assistir. Aliás, você nem sequer é obrigado a ter uma televisão em casa. Aliás, já existem outras emissoras com programação diferente, educativa, cultural, como a TV Cultura, que apesar de ser adorada pelo público, misteriosamente tem uma audiência risível.

O Big Brother é um programa ruim? Sim, sem dúvida. Não há nada de aproveitável nele e o apresentador é um mala? Claro. Mas nós temos dezenas de programas piores na televisão. Temos programas de “humor” com piadas grosseiras e inacreditavelmente ruins. Temos programas com pastores religiosos incentivando a cobrança de dízimo no débito automático porque às vezes o diabo faz com que a gente se esqueça de pagar. As pessoas fazem abaixo assinado para tirar esses programas do ar? Não.

Então, porque justamente o Big Brother? Acredito que seja porque falar mal do Big Brother é algo que atribui uma grandeza moral para o indivíduo. O BBB virou o sinônimo do lixo cultural na televisão brasileira e atacá-lo confere um ar de superioridade, inteligência e discernimento. Você pode olhar na cara de todos seus amigos virtuais, apontar o dedo e rir: idiotas.

Se o Facebook e as petições virtuais existissem em outros tempos, acredito que outros programas de televisão sofreriam a mesma perseguição. Imagino a elite intelectual pedindo que o Fantástico fosse retirado do ar. Que as novelas fossem proibidas. Que o programa do Chacrinha deveria ser banido. Eles ainda pediriam que a minissaia fosse abolida e que se juntássemos 200 mil compartilhamentos o tribunal romano voltaria atrás e soltaria Jesus, ao invés de Barrabás.

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