#hipster

Vez por outra, a sociedade inventa um termo para designar um segmento social excêntrico, que nós tratamos como uma escória e que gostaríamos que não saíssem de casa para que não nos fizessem passar vergonha. Atualmente, este grupo responde pelo termo “hipster”.

Você que mantém alguma vida social na internet já deve ter escutado falar deles e sabe que é difícil definir o que eles fazem. Se saíssemos às ruas para apontar os hipsters, faríamos isso sem convicção. Uma pessoa que parece que é um hipster faz uma piada sobre hipsters, mas será que ser autodepreciativo não é uma característica dos hipsters? Enfim é uma confusão danada.

O termo “hipster” surgiu nos anos 40, para definir os jovens brancos que queriam se comportar como os negros que faziam sucesso com o Jazz. Desde então, eles vivem tentando ser o que eles não são, sob a desculpa de que são autênticos.

Faz parte da “cultura” hipster atual escutar músicas (de merda) que ninguém escuta, assistir filmes (de merda) que ninguém assiste, (fingir) ler livros que ninguém lê. Os hipsters também são famosos por superestimar o bacon, tirar fotos “artísticas” (medíocres) e colocar no instagram e, principalmente, se vestir de uma maneira incrivelmente ridícula e chamar o seu mau-gosto de estilo. Faz parte do “jeito de ser” dos hipsters se vestir com o guarda-roupas da avó (inclusive no caso dos homens) e usar óculos bizarros. Sim, óculos que você se sente mal só de ver na vitrine da loja, mas que essas pessoas colocam em suas próprias caras. Enfim, uma escória da humanidade que nós gostaríamos que não saíssem de casa.

Os hipsters, é claro, não são pioneiros nesta posição. No final dos anos 70 e começo dos anos 80 nós tínhamos os Yuppies, que eram os jovens executivos impulsionados pelo liberalismo da era Reagan. Os Yuppies eram egoístas alienados que vestiam ternos o tempo todo e iam à Studio 54 (ainda de terno) e ficavam sentados em sofás, tomando gim tônica com uma cara de enfado workaholic, buscando alguma forma de prazer material. Eram o oposto dos Hippies, os famosos maconheiros que faziam sexo ao ar livre, propagando a paz mundial e tendo sequelas cerebrais severas.

Contemporâneos dos Yuppies, os Preppies eram sujeitos de classe média alta que passavam gel no cabelo e utilizavam camisas polo Lacoste e praticavam esportes ao ar livre, como canoagem e golfe. Frequentavam clubes sociais e, imagino, amarravam o suéter em volta do pescoço. Se existisse Facebook naquela época, o mundo seria um inferno.

Cantem comigo: "I still believe in your
 eyes"  e sintam o ritmo da noite
Muitos desses “movimentos”, ou “tribos urbanas” se caracterizam por compartilharem o mesmo gosto musical. Como não se lembrar dos Emos com suas roupas pretas e roxas, cortes de cabelo que inspiraram Neymar e o gosto por bandas que choravam cantando? Então, até cinco anos atrás, eles representavam um enorme risco para a sociedade. E os Clubbers e seus óculos de lentes claras coloridas, roupas florescentes e gosto por músicas iguais divididas em subgêneros indecifráveis, como Techno, Trance e Psy. Ou ainda os góticos, punks, mods.

Esse gosto por caracterizar a escória é antigo. Nos anos 40 surgiram os beatniks, poetas marginais que moravam com a mãe e eventualmente saíam pela costa oeste americana utilizando boinas e substâncias ilícitas (cigarros franceses), querendo viver como os criminosos da época. E as flappers? Mulheres dos anos 20 que escutavam jazz, bebiam, utilizavam saias, dirigiam carros, escutavam jazz, faziam sexo e chocavam seus contemporâneos.

Ainda no século XIX existiam os dândis, homens que não pertenciam a nobreza, mas que tinham apurado gosto estético. Sensíveis (homossexuais), dedicavam o seu tempo ao ócio, atividades lúdicas e a produção de frases de efeito. Jamais perdiam a pose. (Imagine Oscar Wilde).

Resta saber qual será o próximo grupo, o que irá substituir os hipsters na função de segmento-com-gosto-estético-esquizofrênico-que-se-dedica-a-contemplação-e-que-a-sociedade-prefiria-que-eles-não existissem.

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