Via Crucis Jornalística

“Mirem-se no exemplo
Daqueles jornalistas de televisão
Sofrem e apenas sofrem”
Você pode ter diversas opiniões sobre as festas de fim de ano. Você pode gostar ou desgostar, mas não pode negar que é uma época parada. Principalmente naquele período que antecede o réveillon e que se estende até os primeiros dias do ano, talvez até o carnaval. Observe o trânsito calmo, as crianças de férias em casas, as tantas pessoas que deixaram a cidade rumo ao litoral. Bem, se você morar no litoral paulista, essa deve ser a época mais movimentada do ano.

É uma época em que há menos serviço nas cidades. E até aí, não teria nada de errado em não ter muito trabalho. Você poderia muito bem ficar no seu emprego, sentado em uma cadeira confortável tentando quebrar o recorde mundial de Campo Minado. Mas, se você for jornalista, não.

Márcio Canuto resolve
Isso porque o jornalismo não atende uma demanda simplesmente. As pessoas não procuram um jornalista para criar uma notícia tal qual procuram o médico para entender que pontada é aquela no peito que se estende para o braço esquerdo. Se ninguém sofrer um infarto, o médico pode dormir. Se ninguém quiser comprar uma casa, o corretor de imóveis senta e assiste televisão. Agora, se nada acontecer, o jornalista não pode ficar tomando um café. Porque o jornal tem que circular.

O repórter do jornal impresso sofre menos. As pautas desaparecem, mas, pelo menos ele tem a possibilidade do editor cortar algumas páginas, dos anunciantes chegarem em peso. O jornalista da internet pode diminuir o fluxo de notícias. Mas, e os jornalistas de televisão? Ele tem meia hora da programação para ocupar, não importa o que esteja acontecendo. Não importa se foi decretado um toque de recolher e eles estejam confinados dentro da redação. O jornal tem que ir ao ar.

E o que fazer? Dá-lhe matéria de seis minutos sobre a Mega da Virada. Especiais sobre os cuidados que você precisa ter no verão. Os tipos de protetor solar, como arrumar a sua mala, o que fazer com os seus filhos. Matérias iguais a do ano passado e que, acreditem, provavelmente surgiram de um momento de desespero. E os jornalistas políticos então? Chegam a ter ataques catatônicos diante do recesso coletivo em todos os poderes públicos existentes.

Dá-lhe enquetes com dezenas de populares comentando um assunto irrelevante. Dá-lhe entrevistas ao vivo, longuíssimas, com algum especialista em uma área sórdida. Dá-lhe exibição de receitas simples, mostradas em seus mínimos detalhes, dá-lhe aquela vontade de sentar, chorar e falar que não dá mais, que hoje o jornal vai ser substituído por uma leitura dramática de trechos de Os Lusíadas.

Pensem nos jornalistas no fim de ano. Eles não têm gosto ou vontade, nem defeito nem qualidade. Tem medo apenas.

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