Retrospectiva 2012

“Mais um ano se passou… estou ficando velho e acabado”.
Todo ano é marcado por alguma coisa. Mesmo que não seja um único fato, um ataque terrorista em Nova York, sempre há aquela sensação coletiva sobre o ano. “Neste ano muitos famosos morreram” ou que “grandes desastres naturais se sucederam”, o clima de ebulição popular em alguma região do planeta. Pois, 2012 não foi assim. Este ano termina com uma sensação de vazio, marcado apenas como ano em que o mundo não terminou.

Sim, o ano em que os Maias prometeram que o mundo iria acabar. E muitas pessoas acreditaram nisso, torceram por isso. Falharam miseravelmente, mas não foram os primeiros. A quantos fins do mundo já não sobrevivemos? Quantos apocalipses frustrado não presenciaremos?
Niemeyer
É claro que em 2012 nós tivemos os famosos mortos. Oscar Niemeyer, que acabou com uma das piadas mais famosas da história, tal qual o título do Corinthians na Libertadores. O álbum de figurinhas ainda é composto por Hebe Camargo, Chico Anysio, Wando, Neil Armstrong, Dicró, Trololó Guy, Joelmir Beting e outros. Mas, aposto que você nem se lembrava que eles morreram neste ano. Talvez nem soubesse que alguns deles ainda estivessem vivos. Talvez nem soubesse que sequer haviam nascido.

As tragédias ocorreram? Sim, sempre um terremoto aqui, um vulcão ali, um naufrágio acolá. Claro que algum maluco iriam metralhar alguma escola nos Estados Unidos. Líderes mundiais foram despostos? Sim, se você considerar que o presidente do Paraguai era um. As eleições não trouxeram nenhuma novidade, uma vez que até os fatos novos já eram velhos conhecidos. Corrupção na política? É claro. Mas, você se lembra qual foi o fato desse ano? Aquela sucessão de CPIs que fazem você acreditar que Demóstene Torres participou do Mensalão, aquele esquema de nepotismo cruzado. Barack Obama foi reeleito, a crise na Europa continuou, uma novela fez sucesso, but what matters?

Talvez 2012 tenha sido o ano dos memes. E, de fato, os memes ganharam o mundo, saíram da internet e foram para a televisão, para os jornais, ganharam espaço inclusive nas retrospectivas oficiais. Quem não se lembra da Luíza que nunca esteve no Canadá, da restauração de Cecília Gimenez, de Nissim Ourfali? Sim, eu gostaria que o ano de 2012 fosse reconhecido pelas futuras gerações como o ano de Nissim Ourfali. Que o Ecce Homo de Borja estivesse em todos os livros de história da arte. Mas isso jamais acontecerá. Porque os memes vão da mesma maneira como vêm. Em uma semana já são pré-históricos, no dia seguinte já são superados.

Tivemos as notícias sórdidas, claro. A mulher que esquartejou o marido, uma mulher que utilizou enchimentos na barriga para falar que estava grávida de quadrigêmos, grávida de um homem castrado. Ou a gangue de canibais de Garanhuns, que além de devorar as suas vítimas, ainda faziam salgadinhos com os restos mortais e os vendiam para os pobres transeuntes da cidade nordestina.

Este poderia ser o ano de Bóson de Higgs? Poderia. Mas quem é que entendeu o que era isso fora da comunidade científica? Poderia ser o ano dos 50 tons de cinza? Talvez. O maior fenômeno literário dos últimos anos colocou o sadomasoquismo nas rodas de bar e nas mesas da família brasileira. Mas, alguém lerá 50 tons daqui a cinco anos? Alguém vai escutar a música do Psy em seis meses?

A culpa talvez seja da nossa geração, do mundo em que vivemos. Convivemos com tantas informações que os grandes fatos e os menos importantes são confundidos e logo esquecidos pelo assunto do dia seguinte. Vivemos cada dia como se fosse o começo de uma nova história. O novo dia parece grandioso, enquanto que o dia anterior é embaralhado numa grande massa de informações difusas, em que nada faz sentido. Uma atriz famosa apareceu pelada no vaso sanitário, mas outras também já, outros ainda irão. Ocorreu a Rio+20, mas e daí, em 2022 haverá a Rio+30, aonde nada será resolvido novamente. A história começa de novo a cada dia.

Abstração representada pela música sertaneja. A cada ano a música sertaneja avança em mais fatias do mercado consumidor, com músicas que tem prazo de validade de dois meses e que são compostas em uma linha de montagem. Sílabas organizadas aleatoriamente, temas difusos, onomatopeias, nada que faça sentido. Nada que ficará para a história, nada que jamais tenha sido feito. Vivemos em um eterno dia da marmota.

Cabe a cada um escolher qual foi o seu fato marcante do ano. O título do Corinthians, do Fluminense ou a vitória do Brasil sobre a Rússia nas Olímpiadas. O julgamento do Mensalão, a eleição de um candidato do PSOL. Escolha o seu fato, nenhum deles irá marcar o ano. (Ok, talvez os títulos do Corinthians marquem esse ano, como o ano da desgraça).

Por essas e outras que 2012 é apenas o ano em que o mundo não terminou. Ele não foi o primeiro e nem será o último.

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