Pais Cruéis

Criar um filho não deve ser das tarefas mais fáceis, acho eu. Além dos custos financeiros de pagar escola, roupa, tratamentos médicos, curso de inglês, natação ou balé, há o desgaste moral. Você tem que ensinar aquela pequena criaturinha o que é certo é errado. Que é bom dizer obrigado e por favor, mas que, por outro lado, não é bom subir em cima da pia e arremessar todos os objetos no chão, ou nas visitas.

Tudo para não criar um monstro. Uma criança que chama o pai de viado no meio do supermercado. Que maltrata os coleguinhas de colégio, ofende os professores e começa a gritar no meio da sala de recepção do oftalmologista. Uma criança que se tornará um futuro psicopata que disseca os cadáveres que ele matou.

Há varias metodologias para criar um filho. Desde os mais radicais e criminosos que não dispensam uma chinelada, uma cintada, golpes de bambu quando uma criança faz uma malcriação, até os mais modernos que acham que a criança tem que ficar sentada em uma almofada refletindo o que fez de errado.

E existem os pais cruéis. Não, não vamos falar de pais que coloquem seus filhos em rituais de magia negra que resultam na criança com 137 agulhas dentro do corpo. Falamos de pais que se utilizam de palavras duras para convencer os seus filhos do que é certo e errado. Patriarcas que não poupam a força da palavra.

Por exemplo, quando uma criança deixa muita comida no prato, ele não tenta realizar aviõezinhos ou proibir a sobremesa. Ele simplesmente fala:
- Essa comida que você está deixando no prato alimentaria uma criança africana. O fato de você não estar comendo essa comida está matando uma centena de crianças famintas. A culpa da fome na África é sua.
O filho raspa o prato e pensa até em comer a ração do cachorro.


A criança deixa um vaso cair no chão
- Meu deus! Esse vaso que veio com nossos antepassados da Itália em 1748. Que passou de geração em geração até mim. Agora ele está quebrado por sua causa. Seu desastrado. Você destruiu toda a história de uma família. Agora nós estamos arruinados.

O filho tira uma nota baixa no colégio.
- Céus, a mensalidade caríssima da escola que eu pago todo mês, com muito suor, me sacrificando, está sendo desperdiçada. Acho melhor você desistir de estudar, porque não tem futuro amanhã. Amanhã mesmo vamos procurar um emprego para você. Não reclame. Sete anos é uma boa idade para o trabalho.

A criança quer passar o dia inteiro no videogame.
- Dá essa porcaria aqui.
E joga o videogame pela janela do décimo sétimo andar.
- Vai fazer alguma coisa de útil agora.

Claro, existem aqueles pais que são ainda mais cruéis e que mandam os filhos para Gaúcha do Norte quando eles completam oito anos e que fazem o filho desfilar vestido de mamífero da Parmalat quando ele come com os cotovelos sobre a mesa. Mas, estes são os pais do menino Fabinho.

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