O ataque à mesa de doces

Tenho reparado algo curioso nos casamentos, formaturas, batizados, bar mitzvah em que tenho ido. Bem, principalmente nos casamentos. No momento em que é liberado o acesso a mesa de doces, com bombons, coisas cremosas e outras esquisitices, como diriam os espanhóis, começa uma correria desenfreada, uma batalha pelas guloseimas.

Analisemos: primeiro há a mesa de entradas, salaminhos, queijinhos, pastas e afins. As pessoas comem, fazem filas, normalmente. Depois, vem o jantar, esperado com ansiedade e longas filas. Mas, até aí, as pessoas se comportam de maneira normal, contidos, civilizados.

Pouco depois do jantar, a mesa de doces que estava ali, sendo namorada pelas crianças desde o começo da festa é finalmente liberada. E aí, é o pandemônio. Crianças se amontoam em volta da mesa, tentando comer a maior quantidade de doces no menor tempo possível. Até aí poderia ser relevado, porque crianças adoram doces e vocês não imaginam o que muitas dessas crianças já fizeram para conseguir um pedaço de bolo.

Mas o pior é situação dos adultos. Vemos cidadãos de gravata folgada voltando para suas mesas com um monte de bombons na mão, tendo que equilibrá-los contra o corpo, chegando a derrubar um ou outro, de tão cheias que estão suas mãos. Alguns levam copos, pratos, chapéus, bolsas, para conseguir a maior quantidade de doces possíveis.

Com tanta gana, tanta volúpia por glicose, a mesa de doces é logo esvaziada. Em menos de cinco minutos não há mais nada e se você queria um simples brigadeiro para adocicar sua boca e sua vida, esqueça. Você teria que ter ido para a batalha mais cedo, correndo o risco de tomar uma cotovelada, um chute, uma joelhada, cair no chão em dores e ser empurrada para baixo da mesa. Teria que brigar com crianças, adultos, tudo em nome de um bombom.

Porque isso ocorre? Porque o ser humano perde o seu controle, seu bom senso, o senso de ridículo diante de uma porção de docinhos empilhados?

Talvez seja porque o ser humano é um animal que sempre corre o risco de perder o controle. É como o trânsito. É como naquele filme “Um Dia de Fúria”. Nesse caso, uma noite de fúria que se repete todas as noites em diversos buffets do nosso país.

Talvez seja porque as pessoas são realmente fanáticas por doce. Esses adultos que hoje se acotovelam por uma mousse de maracujá, foram daquelas crianças que chegaram a dar o cu por conta de bolo e que revelaram esse constrangedor segredo no momento em que suas progenitoras afirmavam que o garoto nem gostava de bolo.

Talvez, as pessoas briguem tanto pelo doce porque querem acumular sobremesa em casa durante a próxima semana. Sobremesa talvez seja o maior símbolo de poder para algumas pessoas.

Ou, ainda talvez, o doce seja o ópio do nosso povo. Um dia, algum país estrangeiro invadirá o país e dominará o nosso povo oferecendo brigadeiros. Farão barbaridades e roubarão todas nossas riquezas enquanto toda a população permanece enlouquecida saboreando alguns docinhos.

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