Interpretador Pornográfico

Olá, meu nome é Roberval. Evitem trocadilhos com meu nome, eu agradeço.

Eu tenho problemas sérios, dos quais venho tentando me tratar com os mais diversos médicos, tomando uma enorme variedade de remédios controlados, tarja preta. Coisa pesada mesmo. E até difícil explicar o que eu tenho, as pessoas sentem asco quando eu relato meu problema. Mas, eu interpreto todas as situações de maneira pornográfica. Toda e qualquer coisa que eu vejo, eu interpreto que irá terminar em sexo.

Meu problema começou na minha adolescência, quando eu fui viciado em filmes pornôs. Assistia vários em sequência, aproveitando minhas tardes vazias. E olha que naquela época a internet ainda era incipiente, tudo o que eu conseguia era nas bancas de jornal e locadoras de vídeo, graças a uma carteirinha falsificada. Tempos inocentes. Na época, minha maior preocupação era com pomadas para minhas mãos assadas e não com remédios tarja preta.

Juro que há algum tempo, alguns anos, bem, alguns meses vá lá, eu não assisto mais filmes pornôs. Percebi que aquilo estava me atrapalhando. Mas as imagens de tantos títulos do gêneros continuam na minha cabeça. Bem, talvez vocês ainda não tenham entendido qual é o meu problema.

Vocês sabem como funciona o roteiro básico de um filme pornô. O homem e a mulher se encontram em alguma situação. Na sala da casa, no parque, no shopping, na piscina, na praia. Eles podem nem se conhecer, mas na cena seguinte eles estarão fazendo sexo. Não precisa muito de diálogo. E qualquer conversa, sugere o sexo. Se o carteiro vai entregar uma correspondência, ele é atendido por uma mulher utilizando trajes que você até dúvida que realmente sejam vendidos.
- Vim trazer uma carta.
- Ai, você não quer colocar em cima da mesa para mim.
- Sim senhora.
- Que carteiro gostoso.
Pronto, agora é o sexo.

Entendem? O meu vício fez com que cada vez que eu veja um homem e uma mulher eu imagine que eles vão fazer sexo. Durante o jornal da TV, quando a mulher sorri para o homem, logo imagino que ele vai traçar a apresentadora ali em cima do balcão mesmo. Em qualquer comercial eu imagino que vai terminar com sexo. Cena de novela, cena de filme. Vou ao cinema assistir uma comédia e passo o filme inteiro achando que vai rolar sexo.
vai começar a sacanagem

O principal problema é na vida real mesmo. No meu emprego. Quando minha chefe diz que quer ter uma conversa em particular comigo eu já começo a imaginar que o Roberval vai terminar nu sobre a mesa da chefe. Quando pego um elevador junto com outra mulher. Quando sou atendido por uma mulher no shopping, quando passo as compras com a caixa do supermercado, sempre imagino que vou fazer sexo. Imagino isso quando vejo outros casais, mesmo que casais involuntários. O sexo está em tudo o que eu vejo, em tudo o que eu faço. O sexo imaginário, entendam.

Até mesmo agora, enquanto escrevo este texto convidado pelo CH3, imagino que uma leitora do blog irá bater a minha porta e que faremos sexo selvagem. Eu preciso de ajuda. Meu nome é Roberval, tenho 28 anos.

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