Uma análise da caixa de bombons

Diria Forrest Gump, que a vida é uma caixinha de bombons. Você nunca sabe o que vai encontrar. É, de fato, uma boa análise, mas que tem uma falha grave. Você sabe sim o que vai encontrar dentro da caixa: chocolate. Dos mais diversos tipos, mas, chocolate. Eu prefiro uma análise que certa vez foi feita por Vinícius Gressana, de que a vida é sim igual a uma caixa de bombons, porque o pior sempre fica para o final.

Eis uma verdade absoluta. O pior sempre fica para o final. Com seus chocolates de sabores sortidos, a caixa de bombons é uma metáfora para a vida. Nós temos várias opções e tentamos controlar as nossas escolhas, mas, chega em um momento em que só lhe sobram opções ruins.

Numa caixa de bombons nós temos os famosos chocolates ao leite, que sempre aparecem em grande quantidade. Eles são uma opção fácil, aquilo que nós escolhemos quando estamos em dúvida. Não porque seja bom, mas porque acreditamos que não irá nos decepcionar. É o equivalente a cursar Direito em alguma faculdade medonha, porque garante um futuro.

O Sonho de Valsa e seus similares dominam as caixas de bombom contemporâneas e sempre são disputados, mesmo não sendo grande coisa. Trata-se de um bombom extremamente doce e enjoativo, mas que transmite uma imagem de glamour, requinte. Tudo pelo seu papel brilhoso, seu nome pomposo. O Sonho de Valsa é um ingresso de camarote. A imagem é melhor do que o resultado. Avelã causa o mesmo fascínio que “cupcake” ou “open bar”.

O chocolate com coco pode ser comparado ao sadomasoquismo. Causa repugnância na maior parte das pessoas, mas tem seus fãs fiéis que nunca recusam um tapinha, ou melhor, um pedaço de coco preso entre os dentes.

Aquelas pessoas que gostam de contrariar, tomar posições contrárias, fugir do óbvio. Os transgressores, os alternativos. Eles escolhem o chocolate branco. Quem prefere o chocolate branco tem uma opinião diferente de 90% da humanidade e representa uma minoria combativa. Quando o chocolate branco cair na sua mão, entenda isso como se fosse uma oportunidade de intercâmbio na Suazilândia.

Os chocolates caramelizados são aquelas oportunidades que parecem ser únicas, mas que assim que você consegue, logo enjoa.

Quando você ia montar o seu time de futebol no colégio, sempre chegava a hora em que sobrava um gordinho desajeitado que você escolhia para ficar no gol. Sem nenhuma expectativa, ele cumpria seus objetivos, mas nem por isso se tornava popular ou era lembrado novamente. Estes são os chocolates com recheio de morango.

Mas no fim, não tem jeito. O que sobra é o chocolate com amendoim. Aquele que sempre fica para o final. Ele é a representação da morte. Quantas vezes você não pegou aquela caixa de bombons sobre a mesa e se deparou com dois Charges abandonados?

Como resultado de uma sociedade de padrões simplificados e de cultura replicada, as caixas de bombons têm cada vez menos atrativos. Quando eu era criança, lembro que havia uma enorme variedade, uma grande gama de opções. Hoje, elas se resumem a vários tipos de Sonho de Valsa. É a vitória das aparências, da falta de alternativas para viver.

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