Coberturas Especiais

Dizem para aqueles que se interessam em seguir uma carreira na área do jornalismo, que uma das vantagens (ou desvantagens, dependendo do seu TOC) é que essa profissão não tem rotina. Cada dia é um novo dia, repleto de novas pautas, novos assuntos, novas aventuras em ruas esburacadas, leilões de gado ou na antessala da presidente da república. Parte disso é verdade. Existem as famosas coberturas especiais.

As eleições são dessas ocasiões em que as redações se organizam a cada dois anos para fazer as mesmas pautas de sempre. São elas:
- Cobrir os candidatos votando. Consiste em tirar uma foto do presidenciável fazendo sinais positivos enquanto vota nele próprio. Depois, o candidato é entrevistando e diz que está confiante na sua vitória, fruto de uma campanha coerente e que pensou o país como um todo.
- Encontrar um jovem de 16 anos na sua primeira eleição e uma senhora de 137 anos que ainda continua votando.
- Cobrir a apuração. Muito melhor quando é na televisão, porque os apresentadores ficam horas divagando sobre o projeto presidencial para 2014 baseado no resultado da prefeitura de Curitiba.

Pudemos acompanhar outra dessas situações na semana passada, durante o velório da apresentadora Hebe Camargo. Jornalistas tem um fetiche em realizar coberturas especiais dos velórios das celebridades. Cobertura que começa no momento em que a pessoa está hospitalizada.
- Um repórter fica na porta do hospital sírio-libanês trazendo as últimas notícias sobre o estado da saúde do cantor. Mesmo que essas notícias sejam que não há notícias.
- Quando a morte é anunciada, as pessoas no estúdio ficam relembrando a vida da pessoa, lembrando histórias, conversando com outras pessoas enquanto a câmera fica fixa no saguão do hospital mostrando pessoas indo e vindo. Vez por outra, os apresentadores são focados fazendo cara de pesar. Tudo isso até que seja preparado um VT com os melhores momentos da carreira do defunto.
- No velório, a TV mostra o cortejo por imagens aéreas, com aquele som da hélice do helicóptero ao fundo enquanto o jornalista conta pausadamente a história do falecido.
- Toda essa saga é resumida em dois minutos para o Jornal Nacional.

Mas nada é pior do que cobrir o Réveillon em Copacabana. Aliás, Réveillons em geral. Você perde a sua folga para fazer reportagens sobre a comemoração das outras pessoas. Mas, creio que o ápice do constrangimento seja fazer a narração da explosão dos fogos.
- Começa a queima de fogos. Uma bonita festa, as pessoas animadas. Vejam só, os fogos, azuis, amarelos. Continuam queimando.
(meia hora depois)
- Os fogos continuam queimando.

Uma merda de vida.

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