O Inferno Previsto

A previsão do tempo não é uma ciência exatamente exata. Os meteorologistas mais experientes podem se utilizar dos mais avançados computadores, estando na condição ideal, que, enfim, pouco importa. No final, a previsão do tempo é apenas um palpite. Sim, o meteorologista olha aqueles dados, aquela porra toda e diz “diante dessas circunstâncias, acho que vai chover”. Mas isso significa que vai chover? Absolutamente não. Ninguém pode garantir isso.

50%. Ou chove, ou não chove
Justamente por isso, os profissionais nunca cravam que alguma coisa vai acontecer. As nuvens pretas podem estar sobre o céu e a sensação é de que o mesmo cairá sobre nossas cabeças. Mesmo assim, a meteorologia dirá que há 90% de chances de chover. Se começar a chover, eles sequer arriscarão um palpite sobre o fim da chuva. Quem garante que não choverá durante toda a eternidade?  Esta hipótese é praticamente impossível, mas a chance existe e ela não pode ser descartada.

Assim sendo, fiquei espantando dia desses quando consultei o Cptec do Inpe, um velho conhecido e eterna fonte jornalística. Já acompanho suas previsões a algum tempo e ele sempre dá margem para acontecimentos que saiam da realidade. Se não vai chover, ele informa que a chance é de 5%. Para tirar o peso da consciência, para poder falar “não digam que eu não avisei”. Porque nenhuma chance pode ser descartada.

Neste aprazível município de Cuiabá, onde fica localizada a suntuosa e imponente sede do Blog CH3, o calor é bastante conhecido e amplamente divulgado em rede nacional. Todos conhecem as façanhas dos termômetros cuiabanos, que fazem com que Cuiabá seja considerada a matriz do inferno. E é, justamente nesta época do ano, no começo do mês de setembro que as temperaturas se apresentam de maneira mais extrema.

Da mesma forma que faz calor, não chove nada. A umidade relativa do ar caí para níveis que a Nasa consideraria improváveis para a existência de qualquer forma de vida. Olho para as pessoas caminhando na rua e chego a duvidar que elas realmente estão fazendo isso. Deve ser uma miragem. Uma miragem esfumaçada porque nossas queimadas também são motivo de orgulho nacional.

Pois bem. A verdade é que não chove em setembro. Provável que nunca tenha chovido neste mês. Aqueles que dizem se lembrar que no oitavo dia do nono mês do ano de mil novecentos e quarenta e dois choveu por dezesseis minutos, devem estar sofrendo alucinações e estão aptos a serem inclusos num programa de lobotomia voluntária.

Mesmo assim, o seu Cptec sempre coloca que a probabilidade de chuva está em 5%. Porque, vai que, né. Porém, dia desses ao consultar o site do Sr. do Inpe, ele disse que a chance de chuva em Cuiabá era de 0%. Isso mesmo, 0%. A nível de meteorologia, esta é uma previsão extrema que só pode ser manifestada diante da certeza absoluta de que não irá chover. Nenhuma chance deve ser descartada? Neste caso, não há chance mesmo.

Em outras palavras, o que o Cptec diz é um tapa no rosto do povo cuiabano. Ele aponta o dedo em nossas caras e diz “nunca mais irá chover nesta terra maldita”. Podemos olhar para o céu com nossas esperanças, mas ficaremos cegos pelo sol e pela fumaça. O 0% de chance é o tiro de misericórdia nas pretensões de Cuiabá se transformar em um lugar próprio para a vida humana.

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