Campanha Eleitoral Sincera

Sonho com o dia em que teremos uma campanha eleitoral sincera. Uma campanha eleitoral em que os candidatos deixem de lado o personagem construído pelo marketing e se assumam como eles são. Assumam os seus defeitos e os suas qualidades. Suas verdadeiras origens.

Estamos cansados do perfil médio dos candidatos. Todos tiveram origem humilde. Não importa se o candidato é um multimilionário, filho de um bilionário, um bem-nascido como diriam os colunistas sociais. Ele teve uma vida humilde. Na infância, diz, ele ganhava a vida catando merda de cavalo. Mas imaginamos que a maior dificuldade que ele teve na vida foi não poder tomar Coca-Cola em alguns domingos.

Porque não temos um candidato que assume que sempre foi rico? Que sempre nadou em dinheiro, estudou nas melhores escolas, nunca pisou em um pronto-socorro e que chegou de carro para seu primeiro dia na faculdade. Mas que isso não impede que ele tenha um senso humanitário e social que o faça querer trabalhar pelos que não tiveram as suas oportunidades.

Estamos bem servidos
Todos os candidatos são bons pais, bons maridos. Penso o quão abençoada é a política que só atraí pessoas de caráter. Mesmo aqueles que já foram noticiados batendo na mulher são dignos de estrelar um comercial de margarina. Fora as questões morais. Nesse hora, para ganhar apoio da Igreja, o candidato passa a ser favorável ao sexo apenas após o casamento.

Onde estão seus defeitos? O candidato poderia assumir que abusa um pouco do álcool, quem nunca abusou? Que não se dedicou a criação dos seus filhos, que não lava a mão depois de ir no banheiro. E, nada de citar “perfeccionista” e “se dedicar muito ao trabalho” como defeitos. A não ser que você queira ser sincero demais quanto as suas pretensões no poder.

E os depoimentos? Nada é mais enfadonho do que aquela série de depoimentos feitos pelo pai, pela mãe, irmão, irmã, tia, vizinha, primeira namorada, professora do maternal, primeiro chefe, goleiro do time da pelada. Todos são unânimes em apontar o candidato como um cidadão especial. A parteira via nele um senso de justiça muito grande. A primeira namorada não esquece o brilho no olhar ao falar das desigualdades no mundo.

Novamente, santa política. Esta classe formada por mártires, altruístas, querubins. Quando é que teremos alguém falando que ele era um aluno normal, tirava algumas boas notas outras ruins, mas que era esforçado e entrou na faculdade mesmo matando eventuais aulas de botânica. Nem precisam revelar que ele batia nos coleguinhas e criou um cartel no mercado de figurinhas do campeonato.

E quando temos o debate? No dia seguinte todos os candidatos dizem que eles foram os claros vencedores. Que enquanto os outros adversários partiram para os ataques pessoais de baixo nível, apenas Ele manteve a coerência e mostrou suas propostas, obviamente as melhores propostas. Mesmo que fosse a mesma proposta que todos tem, a dele era a melhor. Você vai construir oito escolas? Eu também. Mas vou propor de maneira melhor!

A consagração das campanhas políticas sinceras seria o Day After do debate eleitoral. O dia em que o locutor eleitoral anunciaria:

“Claramente Alfredo Chagas teve um desempenho medíocre no primeiro debate entre os candidatos! Ele se confundiu nas suas falas, não apresentou nenhuma proposta e usou seu tempo para a auto promoção! Felizmente, os outros candidatos eram igualmente medíocres e não fizeram muita coisa de melhor. Por isso, vote em Alfredo Chagas, um medíocre melhor”.

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