Desculpinhas

Faz mais ou menos uns 200 anos que a humanidade deixou de acreditar na geração espontânea. Até então, os grandes cientistas seguiam a tese defendida por Aristóteles de que as coisas simplesmente surgiam do nada. Coloque um pedaço de pão em um porão, que um rato vai surgir. De fato, as coisas seriam muito mais fáceis se fossem assim. Coisas simplesmente aparecem e desaparecem, não seria tão complicado entender de onde viemos, para onde vamos.

Ou talvez não. Desde ontem, a hipótese aristotélica da geração espontânea deverá ser reconsiderada pelos grandes pensadores. Tudo por conta da experiência vivida pelo jornalista Carlos Nascimento em São Paulo, quando ele teria sofrido uma tentativa de assalto por um grupo de travestis.

Nascimento conta que trafegava com seu carro pela rua Lineu de Paula Machado, na Zona Oeste de São Paulo. Ele parou para esperar o tráfego, quando em suas palavras “de repente, quando eu olho do lado, tem um travesti sentado no lado do passageiro, dizendo que queria fazer um programa”.

Se nem bactérias surgem do nada, não sei porque isso aconteceria com travestis. Provável que este tenha sido um caso raro de geração espontânea. Desde então, tenho andado com medo, pois temo que a qualquer momento um travesti possa surgir do meu lado, em casa, no shopping, no trabalho, dizendo que quer fazer um programa comigo.

O jornalista percebeu que a situação era séria a partir do momento em que ele começou a pedir em vão para que o travesti saísse do seu carro. Até então, ele achava que “era uma brincadeira”. Há de se admirar o senso de humor de Nascimento. Nenhuma pessoa com quem eu conversei, imaginou que acharia graça em encontrar um travesti querendo fazer programa com você dentro de uma zona perigosa da cidade. Invadir carros alheios oferecendo favores sexuais em troca de dinheiro não é uma “brincadeira” aceitável.

Quando finalmente a ficha caiu e ele viu que aquilo era uma cilada, ele acelerou o carro. O travesti já estava lá dentro, isso não ia ajudar muito, mas tudo bem, relevemos o momento de nervosismo. O espontâneo, armado com um punhal, entrou em confronto corporal com o jornalista. Nascimento não se deu por vencido e atingiu seu oponente com um soco. As outras portas se abriram e mais dois travestis entraram no carro, levando sua bolsa. Não ficou bem claro se o carro ainda estava em movimento, mas isso não seria um empecilho maior para os travestis ninjas.

Nosso Rambo da informação ainda conseguiu sair do carro e retomou sua bolsa. Sabe-se lá como. Os travestis correram atrás de um carro, mas não fugiram dele. Ele voltou para seu carro, acelerou e o primeiro travesti caiu, dando fim a toda a sua saga. Nascimento ainda comemorou que nada de mais grave aconteceu, imaginando qual seria a repercussão caso ele fosse até a delegacia com três travestis.

Nós aqui do CH3 não temos nada contra o cara. Se ele resolveu dar um pega em três travestis, essa é uma questão muy pessoal, que deve ser respeitada. Nem afirmamos aqui que ele tenha feito isso. Não somos ninguém para afirmar que nada chegou a acontecer algum dia. Mas o que fode toda a situação é a desculpinha. É a história mal contada.

Oras, essa história tem uma série de itens mal explicados que apenas confundem a situação. O travesti que surge do nada, a fuga mal concebida, o roubo da bolsa, a recuperação da mesma e a queda final do travesti. Isso parece o cachorro que comeu sua lição de casa, o disquete que não abriu, o pneu furado na rua ao lado da Parada Gay. Iria elaborar agora uma série de desculpinhas, mas, infelizmente, tenho que sair agora para levar minha tia-avó na missa.

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