Uma mensagem para Pedro Bial

Todos na vida precisam de um amigo. Alguém que possa te apoiar tanto nos maus, quanto nos bons momentos. Pessoas que nos ajudem a tomar decisões, que nos incentivem nos momentos necessários, mas que saibam a hora de nos sugerir uma pausa, uma mudança de caminho. Por essas e outras que eu acho que você, Pedro Bial, não tem amigos.

Compreender o que acontece com a sua vida seria uma boa tese de mestrado para psicólogos, astrólogos, sociólogos e afins. Não falo aqui de uma possível ruína financeira, não sei se você é hoje mais rico, ou mais feliz. Eu falo do papel que se representa para a sociedade. Tento entender o que é que aconteceu com você.

Hoje é até difícil lembrar que você, Bial, já foi um jornalista respeitado. Aliás, é difícil lembrar que você foi jornalista. Correspondente internacional, teve o privilégio de cobrir a queda do Muro de Berlin, ver com os próprios olhos o maior acontecimento do final do século XX. Você também acompanhou a Guerra do Golfo e tantos outros importantes acontecimentos mundiais. Esteve no comando do Fantástico, que, queiram ou não, é um dos grandes programas jornalísticos do Brasil.

Estava bom, não estava? Mas eu me lembro do ano de 1998, quando o Brasil sofreu aquela fatídica derrota para a França na final da Copa do Mundo. Zidane meteu dois gols, um pra cada parte do hino nacional, e você escreveu uma crônica. Creio que se inspirou em Nelson Rodrigues, deu luzes poéticas a derrota, misturou o futebol e a vida, questionou o sentido daquilo tudo. E as pessoas gostaram, não sei se pela fragilidade psicológica provocada pela humilhante derrota. Nascia ali o Bial poeta, ou você deixava de esconder este seu lado artístico.

Em 2002, quando o mundo ainda se recuperava da queda das torres gêmeas, você começou a apresentar o Big Brother Brasil, ao lado da Marisa Orth. E você se destacou, não? Enquanto a Magda logo foi evaporada pelas mancadas dela, você reinou absoluto no programa. Manteve ali a sua verve poética, que aumentou ao longo dos anos. É precisa muita inspiração para criar figuras como "A Grande Nave" e coisas assim. Ali, nascia o Bial showman.

No ano seguinte, no final do ano creio eu, você atingiu seu apogeu. Uma interpretação de um texto sobre o filtro solar, que utilizava de várias metáforas em um texto de linguagem poética motivacional. O texto rodou o mundo em slides de Power Point e você foi para os braços do povo. Creio que neste momento, você misturou seu lado showman, poeta, se transformou em um frasista e criou sua própria marca. Todo texto reflexivo sobre aspectos medíocres da vida ganhavam sua assinatura.

A Copa do Mundo se transformou em um evento irritante pelas crônicas que você insiste em fazer após cada partida. Tomar dois gols de cabeça do Sneijder é foda, mas, tomar dois gols de cabeça do Sneijder e ainda te ver refletindo sobre a vida, a derrota em uma linguagem de auto-ajuda é pior ainda.

Mas teve mais. Você levou sua prosa para o final de cada Big Brother. Suas palavras transformaram o ridículo evento do paredão em um embate de ideologias, uma figura de linguagem que representa a vida, uma questão existencial. E o povo adora. Pedro Bial deixou de ser uma testemunha ocular da história para se transformar em um Ícone da Geração Big Brother. Essa geração que tinha oito anos quando o programa estreou, que cresceu com o sonho de participar da casa, essa geração de vontades efêmeras, que coloca qualquer música com onomatopeias no topo das paradas, com a desculpa de que o ritmo é gostoso pra dançar. Você é o grande guru, o mestre dessa geração. Eles te veem como um Gandhi, um Martin Luther King.

E você se assumiu nesse posto. E o que é pior, passou a acreditar que faz parte dessa Geração. Quando o seu novo programa foi anunciado, estava claro que ele não seria bom. O nome ridículo, o Jota Quest como trilha sonora. Porque você escolheu esse nome? Porque teoricamente era uma expressão utilizada pelos jovens. Como você foi vestido no Programa do Jô para falar sobre o programa? Com uma calça rosa. Oras, ninguém com mais de 18 anos tem o direito de usar uma calça cor de rosa, exceção feita aqueles que interpretam algum personagem excêntrico.

Pois este é o problema com você, Bial. Você virou um personagem. Além do showman frasista, agora você virou o tiozão que quer se enturmar. Aquele cara que vai de bermuda florida no aniversário de 15 anos do filho e fala com a galera sobre as gatinhas. Você acha que está arrasando, mas seu filho está pensando em fugir de casa. Bial, você está se transformando na personificação do Tio da Sukita. E isso é triste.

Por isso, eu acho que você, que tanto deu conselhos aos outros, jamais recebeu um. Mesmo que fosse para usar filtro solar. Por isso que eu te digo: terno roxo não dá Bial. É preciso parar.

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